“Chuva Negra” (“Black Rain”), dirigido por Ridley Scott, é um thriller que une ação, drama e a tensão de um choque cultural, ao narrar a jornada de dois policiais americanos, interpretados por Michael Douglas e Andy Garcia, em uma caçada frenética no submundo da Yakuza em Tóquio. Lançado em 1989, o filme marca uma fase interessante nas carreiras de Douglas e Scott, com o primeiro em seu auge após “Wall Street” e “Atração Fatal“, e o segundo buscando retomar a força após trabalhos medianos como Legend e Someone to Watch Over Me.
Enredo
O enredo de Chuva Negra combina elementos de thriller policial com uma análise do choque cultural entre os personagens ocidentais e o rigor da cultura japonesa. Michael Douglas brilha no papel de Nick Conklin, um policial imperfeito, envolvido em corrupção e enfrentando acusações por conduta imprópria. Sua performance, marcada por nuances de egoísmo e preconceito, é contrastada pelo personagem de Ken Takakura, um policial japonês disciplinado que acaba se aliando a Conklin em uma busca por justiça. Essa dinâmica oferece ao filme uma profundidade emocional incomum para o gênero.
Ridley Scott traz à vida uma Tóquio estilizada, quase futurista, que lembra as paisagens de outro de seus filmes icônicos, Blade Runner. A estética visual do filme, fortemente marcada pelo contraste de luzes neon e sombras urbanas, é complementada pela trilha sonora de Hans Zimmer, que adiciona um peso emocional às cenas de ação. A cinematografia de Jan De Bont também merece destaque, com tomadas que capturam a tensão das perseguições e o dinamismo das cenas de luta, criando uma atmosfera de constante perigo.
Michael Douglas em grande performance
Embora Chuva Negra tenha recebido críticas mistas, a performance de Douglas foi amplamente elogiada. Seu personagem, Nick, é uma figura controversa — um anti-herói que, apesar de suas falhas, evolui ao longo do filme. Ridley Scott opta por retratar Conklin como alguém muito longe do típico herói redentor. Ele não apenas é culpado das acusações que enfrenta, como também demonstra um racismo claro ao longo da trama. No entanto, sua transformação ao se unir a Takakura proporciona uma redenção emocional que evita os clichês tradicionais do gênero.
Yusaku Matsuda, que interpreta o vilão Sato, traz ao filme uma presença ameaçadora e marcante. Matsuda, que estava em fase terminal durante as filmagens, entregou uma performance intensa e assustadora, que é um dos grandes trunfos de Chuva Negra. Sua personificação de Sato, um gangster cruel e ambicioso, acrescenta uma camada de tensão à trama que eleva o filme acima de uma mera perseguição policial.
O coração do filme
A relação entre os personagens de Douglas e Garcia, no entanto, é o coração emocional do filme. Garcia, no papel de Charlie, o parceiro mais jovem e inexperiente, conquista o público com sua simpatia e leveza, o que torna sua morte um dos momentos mais impactantes do filme. A cena em que ele canta Ray Charles com Takakura é uma pausa emocional antes de sua trágica morte, que impulsiona Conklin a uma busca implacável por vingança.
Mesmo com todo o talento envolvido e uma execução técnica impecável, Chuva Negra não foi o grande sucesso comercial que se esperava nos Estados Unidos, arrecadando US$ 46 milhões domesticamente. No entanto, o filme encontrou um público internacional e se tornou um sucesso sólido fora dos EUA, arrecadando US$ 88 milhões mundialmente, e se firmou como um dos favoritos no mercado de VHS da época.
Obra redescoberta
Com o passar dos anos, Chuva Negra foi redescoberto por fãs de cinema de ação dos anos 80 e por entusiastas do trabalho de Ridley Scott. No entanto, ele ainda é frequentemente esquecido em análises mais amplas das carreiras de Scott e Douglas. Mesmo assim, para os que revisitam o filme, a obra se sustenta surpreendentemente bem, especialmente por suas complexidades temáticas e visuais.
O filme também foi acusado de ser racista em sua representação dos japoneses, uma crítica que Michael Douglas rebateu ao destacar que o filme foi bem recebido no Japão, chegando a ser indicado ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no país. O debate sobre a representação cultural em Chuva Negra é válido, mas a recepção positiva no Japão sugere que a questão talvez tenha sido mais complexa do que inicialmente apontado.
Subestimada na carreira de Scott
Para Ridley Scott, Chuva Negra foi um projeto que lhe permitiu exercitar seu talento visual em um contexto mais realista, sem os elementos de fantasia ou ficção científica que dominaram outros trabalhos seus. Mesmo sem o sucesso estrondoso de bilheteria de filmes como Blade Runner, Chuva Negra permanece uma joia subestimada de sua filmografia.
Assista o trailer de “Chuva Negra”:
Resumo para quem está com pressa:
- Chuva Negra, dirigido por Ridley Scott, traz Michael Douglas como um policial americano corrupto em Tóquio, em meio ao submundo da Yakuza.
- O filme explora o choque cultural entre os policiais ocidentais e a rígida cultura japonesa, com destaque para a dinâmica entre Douglas e Ken Takakura.
- A estética visual lembra a de Blade Runner, com uma Tóquio estilizada e quase futurista, enriquecida pela trilha de Hans Zimmer.
- Yusaku Matsuda, no papel do vilão Sato, entrega uma performance marcante e intensa, sendo um dos grandes destaques do filme.
- Embora tenha sido um sucesso modesto nos EUA, Chuva Negra encontrou grande aceitação no mercado internacional e entre fãs de VHS.
- O filme foi acusado de racismo em sua representação dos japoneses, mas foi elogiado no Japão, onde foi indicado a prêmios.