Em dois momentos distintos, num tom divertido, os personagens do filme “Uncharted – Fora do Mapa” citam Indiana Jones e Jack Sparrow, protagonistas de duas grandes franquias do cinema que misturam ação, humor e um pouco de História em tramas sobre tesouros escondidos.
As citações não surgem por acaso, uma vez que o longa-metragem é baseado num jogo eletrônico de sucesso e carrega todos esses ingredientes e, surpreendentemente, de uma forma muito eficiente, em caminho oposto à maioria das transposições desse universo dos games.
Os roteiristas não só souberam preencher (os inevitáveis) buracos narrativos, especialmente em relação às mudanças de fase dos jogos e à falta de background para as situações, como criaram uma história cheia de charme e personalidade, dosando muito bem ação e comicidade.
Como nas obras comandadas por Indiana Jones, o sucesso desses ingredientes está, fundamentalmente, no que podemos definir como “visão de mundo” dos personagens: apesar do uso de celulares e tecnologia de ponta, são a estratégia e um gosto inato para a aventura que contam.
A geopolítica internacional parece ainda longe dos acontecimentos de “Uncharted”: não há participação de governos ou defensores de uma ou outra ideologia. As viagens para outro país representam a introdução a uma rica e ansiada cultura – nem pior nem melhor do que as demais.
Barcelona surge no que tem de mais irresistível, levando os protagonistas a uma intrigante caminhada pelo subsolo da cidade (semelhante a “Indiana Jones e a Última Cruzada”), cheio de deliciosos segredos envolvendo duas cruzes (que nos remetem ao medalhão de “Caçadores da Arca Perdida”).
Corrida
Em essência, a estrutura dramática parece convergir para uma prazerosa corrida do ouro, numa espécie de competição para ver quem chegará primeiro ao local do tesouro, elemento que serve para criar momentos de bom humor, com direito a constantes traições e reviravoltas.
Assim como nas aventuras do arqueólogo vivido por Harrison Ford, há uma eletrizante cena de abertura, que nos apresenta o personagem principal em meio à ação, durante uma bem realizada luta corporal no ar, entre contêineres e carros que despencam de um avião.
Os efeitos especiais usados na sequência são imperceptíveis, observação que vale para todo o filme: a tecnologia não está em primeiro plano, apesar de ser crucial para a confecção dos instantes mais movimentados. A aposta é mesmo na interação dos personagens.
Tom Holland – atual Homem-Aranha – faz o simpático e ingênuo mocinho, enquanto Mark Wahlberg é o parceiro obcecado pelo ouro de quem desconfiamos até o último minuto. Entre eles está o irmão desaparecido do primeiro, também um caçador de tesouros, cujos detalhes só serão conhecidos na continuação.
Sim, com duas cenas pós-créditos que antecedem as próximas missões da dupla, os produtores deixam claro que não há dúvidas sobre a longevidade da nova franquia, que, após quase quatro décadas de tentativas fracassadas, foi a que mais se aproximou do espírito das aventuras de Indy.