O caminho para o contentamento, até mesmo de quem sofre de depressão, pode estar logo ali – entre patas, focinhos e a fagos
“Gatoterapia”. Foi o que uma amiga sugeriu para Mara da Costa. Aos 40 anos, a terapeuta holística tinha acabado de perder o marido e, embora mergulhada na tristeza do luto, aderiu ao “tratamento” pouco formal: passar um tempo com gatos resgatados em uma ONG.
O que pode parecer ingênuo, na verdade, tem fundamento científico. Além de estampar um sorriso no rosto do dono, o contato com um cachorro, gato, coelho, cavalo ou qualquer outro pet ajuda no bem-estar psicológico e emocional. Pesquisas relatam a redução da pressão arterial e da frequência cardíaca. A respiração fica equilibrada e o corpo libera serotonina, substância que dá sensação de conforto e relaxamento. Depois da terceira visita à instituição, Mara topou levar para casa e cuidar temporariamente de uma mamãe gato, seus filhotes recém-nascidos e mais um gatinho órfão. Era a turma de felinos, porém, que trataria da moradora nos dias seguintes. “Antes, eu levantava da cama para chorar. Depois que eles chegaram, passei a levantar para cuidar dos bichinhos doentes ou fracos”, lembra Mara. “Na época, estava tomando remédio para dormir, mas não queria abandonar os filhotes e fi cava acordada com eles”.
O apego e a atenção com os animais foram ajudando na estabilidade emocional e logo Mara pode reduzir a medicação. “Assim como faz bem aliar o tratamento da depressão à exercícios físicos, há uma melhora clínica por meio do contato com animais, desde que essa seja uma atividade que dê prazer ao paciente”, defende Juliana Bortoluzo, psicóloga no Hospital Anchieta, em São Paulo, onde utiliza cães para sensibilização de pacientes. Trazer para casa uma família de quatro patas reduziu a sensação de solidão. Não demorou nem duas semanas para que Malu e sua ninhada – Lui, Lorenzo e o pretinho Greco – passassem de hóspedes para membros oficiais da família. Mara e a fi lha carregavam os gatinhos no colo e nos bolsos pra mantê-los aquecidos e, claro, isso esquentou o coração de todo mundo. Mas a adoção tem ainda um benefício extra: “A escolha de retirar outro ser vivo de uma situação de risco e lhe dar um lar representa para o dono um sinal forte de que ele também tem o que oferecer”, diz Ana Helena Martins, diretora de saúde humana do Instituto para Atividades, Terapia e Educação Assistida por Animais de Campinas (Ateac).
Segundo ela, quem passa a doar seu tempo para cuidar de um animal, seja sapo ou passarinho, exercita a responsabilidade em relação ao outro e o sentimento de importância, o que melhora a autoestima e transborda para as relações pessoais. Diante de um trauma físico ou emocional, às vezes, é mais fácil criar um vínculo com um bichinho do que com uma pessoa. Assim, animais podem ser o primeiro agente de reabilitação. “A interação com eles quebra barreiras de feridas e sofrimentos e, pouco a pouco, as pessoas vão se abrindo mais”, explica Juliana. Para Mara deu certo: “Eles me salvaram”.
JÚLIA REIS é jornalista, mora em São Paulo e cria dois gatos e dois cachorros. Todos vira-latas e adotados. A Rogue é uma cadela preta e esfomeada, o Crisp, caramelo, come os móveis. O Tripel é um gatinho negro de três pernas que adora caixas de papelão e o Pilsen, amarelo, está sempre em cima ou dentro dos armários