Quando a companhia e o afeto de cães, gatos, passarinhos, papagaios… ou outros amigões é eternizada em obras de arte
Ora pela admiração de suas formas – atléticas como a de um puro sangue –, ora para documentar um comportamento que servirá de base para futuras pesquisas, os animais sempre estiveram presentes em registros humanos e em expressões artísticas. Bem mais além do que um elemento do cenário, eles são, para alguns pintores e escultores, o tema central: a musa inspiradora com focinho e patas.
Fazendo desenhos de seus cachorros por diversão, a ilustradora Didi Cunha, de São Paulo, descobriu o prazer – e a oportunidade – de retratar animais de estimação também para outras pessoas. Criou então o Bichoteca, projeto pelo qual recebe fotos e descrições de pets para criar quadros sob encomenda. “Comecei a fazer porque gosto de bichos, foi uma inspiração. Fiz alguns de presente para amigos e vi que geravam impacto nas pessoas. Elas ficavam emocionadas”, conta.
Essa história de se inspirar nos animais para fazer obra de arte vai longe no tempo. O mestre Leonardo da Vinci (1452-1519) fazia desenhos de cavalos, cães e felinos. Ticiano, outro importante pintor do século XV, retratou em algumas de suas pinturas a amizade do homem com os cachorros.
Segundo um estudo da artista plástica Juliana Copetti Hickmann publicado pelo Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, esse interesse nunca cessou, e continuou a ser expresso ao longo dos séculos: “Em anos mais recentes, ganhou novas e diferentes configurações em diversas manifestações”.
O brasileiro Aldemir Martins (1922-2006) ficou conhecido pela presença dos gatos em suas gravuras. Muitas de suas criações trazem a temática nordestina (Aldemir era cearense), mas foram as obras de animais que ganharam a simpatia do público em geral. “Começou a surgir gato. Todo mundo queria gato, todas as senhoras queriam gatos. E eu faço gato até hoje”, disse ele em um documentário sobre seu trabalho. Quem tem bichinhos de estimação cria uma relação de afeto com obras que mostram as espécies, mesmo que em representações menos realistas. “Você volta seu olhar para isso e começa desejar ter algum objeto de decoração ligado a esse afeto, a esse companheirismo”, entende Didi, dona dos cães com alma e artista: Oscar Wilde e Ludovic.
Como cães, gatos e outros animais hoje dividem a casa – e a vida – com seus tutores, há os que encomendam até ensaios fotográficos que eternizam essa relação especial. Ex-fotógrafo de celebridades, Lionel Falcon mudou o foco de suas lentes para esses habitantes domésticos. Com 30 anos de experiência, ele decidiu se especializar em imagens de pets e atualmente captura momentos e movimentos espontâneos. “O animal em si é lindo em todas as formas. Quero que o amor e o encantamento transmitidos por ele fi quem eternizados”, observa.