Ele, que vive o personagem Arnaldo, revela que já fez espetáculos para a Censura, na época da ditadura militar, nos anos 1970 e 1980
Com personagens malvados memoráveis em seu currículo, como o LC (Além do Horizonte/ 2013) e o Antenor (Justiça/2016), Antonio Calloni dá vida a mais um vilão: o terrível Arnaldo, de Os Dias Eram Assim. Na supersérie, a principal característica do empresário é estar ao lado dos militares, na época da ditadura. E ele não poupa esforços para ver seus inimigos sendo torturados. Além disso, Arnaldo abortou a felicidade da filha, Alice (Sophie Charlotte), afastando- a de seu amado Renato (Renato Góes). Mas as maldades do vilão está com os dias contados. Arnaldo vai morrer.
Otimismo sempre
No mundo contemporâneo, muitos clamam por liberdade e igualdade, ideias almejadas nos anos 1970 e 1980, época em que a trama é ambientada. Para Calloni, o momento atual é de reflexão. “Hoje em dia, o mundo está polarizado, passando por uma fase muito perigosa. A supersérie veio muito a calhar , porque é hora de reflexão. Devemos valorizar cada vez mais a democracia e a tolerância”, explica. “Não sou otimista cego. Sou bem realista. Se está ruim, a tendência é melhorar. Vai demorar, mas estamos agindo para melhorar. O debate está acontecendo e as redes sociais estão aí pra refletir o pensamento de todos”, completa.
Porta voz da arte
Aos 55 anos, Calloni recorda histórias de sua adolescência, na época da ditadura militar. O ator já sentiu de perto os problemas da repressão. “Eu lembro de ter feito teatro para a Censura, com a preocupação de cortar trechos que não podiam ser ditos”, relata. Ele ainda afirma que a arte tem um papel fundamental para mudar a cabeça de um povo. “Ela tem sempre uma função política fundamental. A arte estimula você a pensar, aguça sua sensibilidade, melhora sua maneira de ver o mundo, deixa sua cabeça mais preparada para você se relacionar com as pessoas e com o mundo. A arte é revolucionária”, ensina.
Viva a diferença
Outra discussão em pauta na supersérie é o machismo, característica que Arnaldo tem em suas veias. Calloni afirma que, nos tempos atuais, é um erro querer comparar o machismo e o feminismo. “A compreensão deve ser maior do que isso. Homens e mulheres são diferentes, mas devem ter os mesmos direitos. Qualquer radicalismo é um problema muito sério. Machismo não cabe mais no mundo atual, da mesma forma que o feminismo extremo também não”, afirma. “Não podemos cair na armadilha da luta de homens contra mulheres. O bom é ser diferente. É na diferença que a gente aprende a ir em frente”, afirma o sagitariano.
Tempo para recordar
Com 37 anos de carreira, a cada trabalho novo é uma renovação para Calloni. No caso de Os Dias Eram Assim, é como se ele entrasse numa máquina do tempo. “É muito bom relembrar situações que vivi, ver a moda, os costumes, a tecnologia da época… É fascinante. Com esses elementos históricos é mais fácil entrar no personagem. Sempre fico encantado com o cenário, me sinto como se estivesse na Disney (risos)”, revela o artista, que estreou na televisão em outra trama de época, Anos Dourados (1986), interpretando Claudionor. Além da atuação, Antonio tem outra paixão: os livros. Ele tem nove publicações no currículo, entre eles romances e poesias, seu estilo preferido.