O ator que interpreta Gustavo na trama das 9 dispara: ‘As pessoas levam a morosidade como algo normal’
Nos capítulos recentes de O Outro Lado do Paraíso, Gustavo vem provando do amargo veneno de Clara (Bianca Bin), que faz dele a quarta vítima de sua vingança. O juiz de Palmas será desmoralizado perante à sociedade e sua família ao ser revelado que ele é o sócio do bordel. Para o intérprete de Gustavo, Luis Melo afirma que a vida do magistrado vai virar um inferno, tanto pública quanto na pessoal. “Essa descoberta é muito interessante, por que vai desencadear um conflito enorme para o casal. É o momento em que ele e Nádia (Eliane Giardini) se separam por ciúmes e isso será muito bom para a trama”, diz o ator.
Na trama das 9, a relação bem humorada de Nádia e Gustavo é abalada pela revelação de ele ser o sócio do bordel. Foto: Estevam Avellar/ Rede Globo
Válvula de escape
Embora o papel de Luis seja denso, ao encarnar um juiz corrupto, o ator se esbalda com as cenas cômicas com Eliane. O casal Gustavo e Nádia caiu no gosto do público por causa de suas fantasias sexuais. “A gente mostra muitos assuntos sérios que merecem ser tratados, como corrupção, roubo e racismo, mas existe também o humor, num casal que se gosta, que se ama. Isso traz uma leveza. As pessoas percebem tudo o que é discutido, mas dão o carinho para o casal. Esse estímulo é muito bom”, afirma Luis, que revela que eles improvisam nas cenas de comédia e chegam a gravar mais de uma opção para ir ao ar. “A gente brinca muito, é gostoso fazer um juiz que manda em seu tribunal, mas em casa é extremamente obediente à mulher. É um elemento de escape”, comenta.
Ao lado de Christiane Torloni, em Cara & Coroa, como Rubinho, seu primeiro trabalho fixo na televisão. Foto: Divulgação/ Rede Globo
Morosidade da justiça
Já pelo lado obscuro da trama, para encarar o juiz corrupto, Luis teve contato com magistrados que já fizeram procedimentos ilegais como o de Gustavo. O ator, inclusive, trouxe um caso da vida pessoal para somar ao personagem, porque está com um processo de posse de um terreno, para a construção de um espaço cultural, para ser resolvido na Justiça. “Espero que se decida logo ou daqui a pouco a juíza não vai me dar o processo, porque pode ficar com ódio da novela (risos). Talvez esteja demorando seis anos por eu não propor nenhum tipo de acordo. Um processo simples, mas que está enrolado. Provavelmente seja esse o esquema”, se preocupa o curitibano, que não usa sua fama para tentar acelerar o processo. “Tenho uma prima juíza, que me explicou que, a fama pode ser uma faca de dois gumes. Tanto pode acelerar o processo, ou pode achar ruim por eu denunciar o caso. Isso é muito triste no Brasil, as pessoas levam a morosidade como algo normal. Na Justiça, tudo tem um movimento estranho. Também há uma necessidade da demonstração do poder”, revela.
Em Sol Nascente, o curitibano sofreu críticas ao viver um japonês, não sendo um homem nipônico Foto: João Miguel Junior/ Rede Globo
Sem ressentimento
Com quase 50 anos de carreira, o escorpiano, de 70 anos, já era um ator consagrado do teatro quando decidiu se lançar na televisão, na novela Cara & Coroa (1995). Até então, ele só havia feito participações especiais. A partir daí, não saiu mais da tela. “Tudo veio no momento certo. A vida é feita de etapas. Não tive pressa para sair da minha cidade (Curitiba) e entrar na televisão. Não que a TV não me chamasse, mas eles não tinham nada para me dar que substituísse o trabalho que estava desenvolvendo no teatro”, revela o ator, que sofreu críticas ao interpretar o japonês Tanaka, em Sol Nascente (2016), por não ser oriental. Até mesmo de artistas nipônicos. “Se você dar margem às críticas, acaba sofrendo uma espécie de perseguição. Acho importante que as pessoas lutem por um espaço, mas que batalhem realmente. Façam algo para que isso seja mudado. O que aconteceu foi ótimo porque eles começaram a se movimentar e não só reclamar”, analisa. Apesar dos julgamentos, Luis afirma que Tanaka foi bem recebido pelos japoneses donos de comércios. “Sempre fui respeitado por eles, que sabem do meu respeito à cultura japonesa. Uma atriz negra ou oriental não pode viver uma rainha dinamarquesa? Qualquer tipo de ator tem toda a liberdade para encarnar qualquer papel! Não fiquei chateado em algum momento com as críticas que recebi”, esclarece.