A atriz faz parte de uma geração de atrizes que pouco se importam com as marcas do tempo
Selma Egrei conta o que faz para manter essa postura invejável até hoje aos 67 anos, 46 dos quais dedicados ao teatro, ao cinema e à TV, onde começou, simultaneamente, em 1970. “Tenho uma alimentação saudável, sou vegana. Não faço academia, mas procuro sempre ter uma atividade física suave, leve. Dou uma caminhada ou faço um alongamento. Levanto cedo, sou ativa, não saio à noite. Não entro em ambiente esfumaçado, não tomo álcool, nada disso. Acho que são cuidados com minha saúde no geral”, conta a paulistana, que rouba todas as cenas como a centenária Encarnação, a matriarca da família do coronel Saruê (Antonio Fagundes), em Velho Chico.
Depois de 46 anos de carreira, você tem conquistado cada vez mais projeção na telinha…
Tenho tido muita sorte, entrado em obras interessantes, com diretores fantásticos, começando pelo Selton Mello em Sessão de Terapia (série do GNT, 2012), o Fernando Meirelles (na minissérie Felizes Para Sempre?, de 2015) e agora, também na Globo, com o Luiz Fernando Carvalho, em Velho Chico. Eu me sinto fazendo cinema com eles. A gente tem um processo mais teatral, na maneira como introduzimos cada cena.
Encarnação é a vilã de Velho Chico? Vai deixar saudades ou provocar pesadelos em você?
Ela é muito especial. É difícil a gente saber quem ela é. É uma figura misteriosa. Emblemática numa série de coisas. É o arquétipo do poder falecido, que não quer abrir mão e que vai até os 100 anos. Está ali quase morrendo, mas não larga o osso. É a matriarca, poderosa, quer dominar todo mundo. Está o tempo inteiro observando. Tudo tem que estar sobre a apreciação dela.
Acredita que é o lado amargurado dela que a faz agir daquele jeito? Como viver atormentando a Iolanda (Christiane Torloni)?
É amargurada, sofrida, dramática. É doloroso perder um filho, mas ela fez disso um drama, uma tragédia inacreditável. Amo a Encarnação.Vou morrer de saudades dela.
Você demora a se desvencilhar de um personagem marcante?
Eu gosto muito dos personagens que faço, então, guardo todos com carinho. Já fiz muita coisa. Cada personagem é uma coisa. Não estou ligando Encarnação a outros. É uma personagem difícil. Ela tem uma carga emocional muito forte, muito pesada. Não é uma coisa que a gente faz com o pé nas costas. Já interpretei a morte no teatro, no espetáculo O Colecionador de Crepúsculos, de Vladimir Capella, baseado nos contos de Luís da Câmara Cascudo. Já carreguei nas costas o peso de outras personagens.
A transformação da Encarnação é marcante. Dá muito trabalho?
A caracterização da Encarnação não é propriamente complicada. É até mais rápida do que a maquiagem normal das atrizes. O Rubinho (Rubens Liborio, caracterizador da novela) diz que a minha é mais rápida e mais fácil. Na verdade, dá mais trabalho pra tirar do que pra colocar. Já o figurino é um pouco mais delicado, complicado. Na primeira fase era pior, agora nem tanto. Está mais suave, mas, mesmo assim, é uma roupa extremamente rebuscada, sofisticada. Mas não demora muito para compor.
É verdade que você não gosta de fazer uma novela inteira?
A paixão maior é por um bom trabalho. Em Velho Chico, por exemplo, tem um texto maravilhoso, e elenco ótimo. Quando o trabalho é bom ele se torna o máximo. Não tenho nenhum tipo de preferência.