Ruth acredita que sua biografia é também um documento histórico
Correr atrás de seus sonhos e lutar contra os preconceitos
sempre foram metas na vida da atriz Ruth de Souza. Em seus 70 anos de carreira,
a estrela enfrentou o racismo e muitos problemas políticos. Em 1945, foi a
primeira atriz negra a pisar no palco nobre do Theatro Municipal do Rio de
Janeiro, para encenar a peça O Imperador Jones. Essa atitude foi primordial
para que abrissem portas para outros atores negros. Segundo Ruth, hoje, o
mercado para o artista afro-descendente está melhorando aos poucos. “Quando
comecei, só tinha o Grande Otelo fazendo o Cassino da Urca. Independente de
raça, nosso ofício é muito difícil, cheio de surpresas. Para nós é mais difícil
ainda, porque temos que matar dois leões por dia”, afirma a diva, de 94 anos,
que fica orgulhosa em saber que influenciou tantos artistas da nova geração.
“Não tive a intenção. Não sabia que eu teria essa importância. E também no que
se refere aos autores e diretores, que passaram a colocar o ator negro como um
ser humano. Porque, antigamente, o negro era quase um objeto de cena”, comenta.
MEMÓRIAS DA GUERREIRA
Para relembrar as memórias de Ruth, Julio Claudio da Silva
escreveu Uma Estrela Negra no Teatro Brasileiro. A obra conta o período entre
1945 e 1952, época em que a atriz esteve no Teatro Experimental do Negro e
estudando na Universidade de Harvard e na Academia Nacional de Teatro
Americano, nos Estados Unidos. “O livro também versa sobre a relação de amizade
de Ruth com Jorge Amado, Nelson Rodrigues e Vinicius de Moraes”, conta.