A escritora afirma que vai mostrar os dramas pessoais que afetam os jovens atuais com 17 protagonistas
Com apenas 19 anos, Patrícia Moretzsohn foi uma das criadoras de Malhação, em 1995. De lá pra cá, o produto se firmou como uma paixão nacional e, a cada temporada da trama, além de levar emoção e alegrias na tela, coloca em pauta discussões importantes que afligem o jovem. Com as novas tecnologias, a novela se transformou assim como Patrícia, que cresceu em sua profissão e se firmou como autora, principalmente por seus textos que abordam a vida dos adolescentes, vistos em nove temporadas de Malhação, e nas duas etapas de Floribella (2005/2006), na Band. Agora, Patrícia tem um novo desafio lançado.
Patrícia ao lado de Natalia Grimberg, diretora artística de Vidas Brasileiras. Crédito: Globo/Raquel Cunha
Nova fórmula
Prestes a estrear a décima temporada de Malhação, intitulada Vidas Brasileiras, na quarta 7, a escritora veterana confessa que, mesmo após tantos trabalhos na televisão, sempre dá um frio na barriga antes do primeiro capítulo. “Acho que nunca estive tão nervosa como agora. Estamos com uma proposta diferente. Tínhamos um formato muito legal que eu curti muito, mas agora tudo mudou. Vamos apresentar uma forma mais humana, de ir a fundo nos dramas pessoais dos personagens, isso traz uma responsabilidade enorme”, revela Patrícia. Na proposta defendida pela autora, não há apenas um casal protagonista, mas sim 17 jovens que, a cada 15 dias, um deles vai ter sua história evidenciada na tela. “Eles vão alternando esse protagonismo. Falando assim 17 personagens principais pode parecer uma bagunça, mas eles vão ser coadjuvantes nas histórias dos outros e protagonistas em seus conflitos”, avisa a carioca.
Olhar delicado
Para contar tantas tramas, Patrícia se inspirou na realidade em que os jovens enfrentam na atualidade. A autora escutou muitos adolescentes e educadores, uma vez que o cenário principal da novela é a escola Sapiência, em que Gabriela (Camila Morgado) atravessa os muros do colégio para entender as frustações de seus alunos. “Em 1995, a gente trabalhava com apenas um estereótipo de jovem. Não entendíamos que cada um deles tinha uma demanda. Não dá mais pra falar que um é igual ao outro. Hoje, eles estão sentindo segurança de se colocar, de mostrar seus dramas, lutar por sua individualidade. É isso que vamos mostrar”, afirma. Com tantos atores estreantes, Patrícia sente a responsabilidade de lançar rostos novos. “Isso é uma das coisas que realmente me motiva a cada trabalho. É maravilhosa a oportunidade de conhecer e lançar esses talentos. Faço Malhação há mais de vinte anos e ganhei mais de vinte anos de adolescência extra, porque cada vez trago a energia deles pra mim”, brinca Patrícia.
A professora Gabriela e seus alunos estarão na tela a partir da quarta 7. Crédito: Globo/Sergio Zalis
Dom de família
Filha da também autora Ana Maria Moretzsohn, Patrícia festeja os 23 anos de carreira, que foi iniciada por sua convivência com a mãe e por sua paixão pelas cidades cenográficas. “Sempre gostei de ler e escrever e ver minha mãe fazendo novela. Mas o que me fez apaixonar de verdade por televisão foram as cidades cenográficas. É incrível como se pode construir uma cidade inteira e você toca e vê que é madeirite, papelão. Eu vi como a gente pode criar mundos. Isso me fascinou!”, conta a escritora, que ficou perdida na cidade cenográfica de Vidas Brasileiras, quando visitou o local pela primeira vez, por realmente acreditar que estava em Botafogo, bairro em que a trama é ambientada.
Patrícia e sua mãe, a também autora, Ana Maria, responsável por novelas de sucesso como Tieta (1989) e Luz do Sol (2007), atualmente reprisada pela RecordTV
Temporada longa
Aos 42 anos, e mãe de dois filhos, além de uma enteada, Patrícia brinca com a influência de suas crianças na hora de escrever o texto. “Eles são pequenos. Na verdade, acho que a Malhação é que me inspira para cuidar dos meus filhos. Imagina no que isso vai dar… (risos)”, diverte-se a autora, que também é uma das donas do empório de produtos brasileiros Peneira Fina. “Acredito muito no projeto da loja. A gente prioriza o pequeno produtor brasileiro. Nunca tinha mexido com isso na minha vida. Não gostava das aulas de matemática, nunca pensei que um dia teria que fazer contabilidade (risos). Eu até estou pensando abrir uma filial, mas está difícil conciliar por conta da novela”, afirma a ariana, que deve escrever a mais longa temporada de Malhação: “Não sei ainda se será a maior de todas, porém estou planejando pelo menos uns 260 capítulos. Mas não tem problema, pois na temporada de 2008 foram 14 meses e eu sobrevivi (risos). Vamos lá!”.