Ela sofre com a história da personagem Elisa, e diz que, como mãe, buscou inspiração para a personagem no pavor que toda mulher tem de perder um filho
A dor de uma mãe que vê a filha ser assassinada pelo genro é dilacerante. Em Justiça, Débora Bloch dá vida a Elisa, uma mulher que passa por isso e planeja se vingar do assassino. Mãe de Julia, 22 anos, e Hugo, 18, a atriz revela que fica comovida com o drama da personagem e que sofre junto com ela. “Quando termino o dia de trabalho, parece que levei uma surra”, diz.
Aos 53 anos, Débora assume que buscou na sua própria vida a inspiração necessária para compor a sofrida Elisa. “O maior medo de toda mulher é perder um filho”, explica. Para completar a preparação, a atriz fez aulas de tiro. “Foi a primeira vez e é mais fácil que eu imaginava”, conta em entrevista para MINHA NOVELA.
De onde buscou o sentimento de vingança para viver a Elisa?
Eu fui buscar no meu sentimento de mãe. O maior medo de toda mulher é perder um filho. Tenho um exemplo dentro de casa. Há pouco tempo, minha faxineira perdeu o filho assassinado. Ele foi tomar banho de cachoeira numa área da favela que era de outra facção. Os bandidos pensaram que era um intruso e ele foi assassinado. Nesse caso, não houve justiça para a minha empregada. É muito duro assistir isso acontecendo com uma pessoa próxima.
Como vê a obstinação de Elisa para matar o assassino da filha?
O interessante da minissérie é que fala bastante da nossa realidade: a impunidade que a gente assiste a toda hora no Brasil. Mas há um assunto principal, que é o confronto entre o que a legislação manda e o que é realmente justo. A Elisa tem obsessão de se vingar. Não dá para concordar com o que ela defende, porque seria uma barbárie se todos fizessem justiça com as próprias mãos. Por outro lado, consigo entender o sentimento da mãe que perde um filho assassinado e esse criminoso só fica sete anos preso. Compreendo a dor, a revolta e o ódio. Elisa está numa doença e não conseguiu se recuperar. Se é que a cura é possível.
O que você faria se passasse por isso? Perdoaria o assassino?
Essas coisas são difíceis. Quando penso como mãe, acho que seria impossível perdoar. O ser humano é complexo e a realidade é mais surpreendente do que imaginamos.
Saiu mexida das cenas de Elisa?
Sim. É uma dor muito profunda. Não tem como ficar brincando, pois corre o risco de, na hora de gravar, não acontecer a cena. Não é como um botão que liga e desliga. Tem que buscar dentro de você, entrar no estado da personagem. Quando termina o dia de trabalho, parece que levei uma surra. Tomo um banho quente, faço massagem relaxante. Também estou fazendo crochê e tricô como meditação.
Como foram as aulas de tiro?
Fiz poucas aulas, mas aprendi muito. Foi a primeira vez e é mais fácil que imaginava. Mas era com bala de festim.
Está também em cartaz com a peça Os Realistas?
Estou num momento muito feliz, de ter conseguido fazer a peça, de estar numa minissérie com um personagem diferente dos que fiz na TV. É muito estimulante.
E para conciliar teatro e TV?
Eu jurei que nunca mais ia fazer isso. Trabalho de domingo a domingo. O bom é que meus filhos estão grandes, então dá para conciliar. Meu personagem no teatro dá uma alegria que a Elisa não tem.
Quais os planos após Justiça?
Tudo indica que estou escalada para a próxima novela da Lícia Manzo (previsão de estreia em abril de 2017), com quem fiz Sete Vidas (2015). É uma autora que gosto muito. Ainda estamos conversando. Tomara que dê certo!