O ator revela que apaga sua visão de mundo, para interpretar o poderoso Gibson de A Regra do Jogo
“É mais fácil fazer o oposto”. É assim que José de Abreu
define sua atuação ao dar vida à Gibson, o magnata dos negócios e patriarca da
família Stewart, em A Regra do Jogo. O milionário está entre os dez homens mais
ricos do Brasil, mas preferiu o dinheiro a cuidar de sua família. Agora, o
poderoso nem sonha que sua mulher, Nora (Renata Sorrah) se apaixonou pelo
próprio motorista, Régis (Oscar Magrini). Diferente de Gibson, o ator tem outra
visão do mundo, seja no campo político, econômico ou familiar. Aos 69 anos, o
paulista completa 35 anos de novelas com uma variada galeria de papéis fortes,
como o médico Daniel, de História de Amor (1995), e o Nilo, de Avenida Brasil
(2012). José revela que, quando entra em cena, se desliga completamente de seus
pontos de vista e empresta sua versatilidade ao personagem.
Como é fazer um papel completamente diferente de você?
É mais fácil fazer o oposto. Quanto mais longe o personagem,
é mais fácil criar essa nova personalidade. Quando é mais parecido com o ator,
acaba misturando. Fazer o Nilo, por exemplo, foi mais fácil do que fazer um
médico de classe média. Já o Gibson, não tem nada a ver comigo. Ele não presta!
Como se desligar da vida pessoal ao viver um cara como o
Gibson?
No momento em que estou representando, eu sou inteiramente o
personagem. Isso é uma coisa que eu faço com muita facilidade. A Amora
(Mautner, diretora de núcleo) fala que sou o único ator que trabalha com
botões. Sempre obedeço quando ela fala: “Faz triste, faz rindo, faz chorando,
faz lento, faz depressa…”. Eu adoro ser dirigido. O ator nada mais é que um
veículo do diretor e do autor. O bom ator é aquele que entende o que o autor quer
dizer e se deixa levar pelas mãos do diretor. É um horror não ser dirigido. Me
entrego de cabeça.
Interpretar o Gibson é tão complexo como foi o Nilo?
No Gibson, estou tentando tirar aquela coisa italiana que,
no Nilo, eu assumi. Nilo era uma árvore de Natal. Ele não podia aparecer todo o
dia na novela, porque aquele ser era uma coisa absurda, fora dos parâmetros.
Gibson é fora dos parâmetros em outra situação. Estou experimentando essa
frieza do milionário.
O Gibson tem várias feridas do passado que ainda não foram
cicatrizadas…
A família dele é complicada, porque a filha sofre de
bipolaridade, que causou um problema sério na família. Ele tem dois netos que
não sabem quem é o pai. Isso é um conflito para uma família tradicional e
Gibson morre de vergonha desses escândalos.
E a visão dele sobre o dinheiro?
O milionário tem uma visão do mundo diferente dos mortais. É
como ser um cavaleiro do capitalismo. E isso fez com que ele abandonasse a
família. É muito difícil cuidar das duas coisas ao mesmo tempo. Gibson não
gosta de pessoas, e sim de dinheiro. Diferente de mim que adoro gente. Adoro
estar em grupo, em turma.
O que faria se fosse milionário?
Faria uma novela de três em três anos e viveria viajando
(risos). Eu adoro viajar.
Você é o queridinho da Amora Mautner. Como é a parceria?
É a quarta novela que faço com ela. Vi seu crescimento.
Amora não faz o arroz com feijão e isso deixa o ator fora da zona de conforto.
Chego no set como se estivesse fazendo teatro nos anos 1960. Tenho que
improvisar e criar coisas fora do texto.