O ator solta uma gargalhada ao dizer que seu personagem não se enquadra em nenhuma classificação LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros)
De mega hair, que
lhe permite amarrar um coque despojado no alto da cabeça, sobrancelhas feitas,
tórax e abdômen depilados e sem descer do salto, Rainer Cadete tem roubado a
cena como o booker Visky, de Verdades Secretas. E deixa quem ainda se preocupa
em rotular as pessoas, com a pulga atrás da orelha. “Tem tantas nomenclaturas
hoje que eu não sei em qual enquadrar o Visky dentro do movimento LGBT. Ele é
livre mesmo”, aposta, às gargalhadas, o ator que, no teatro, já havia passado
por transformações radicais. Usou unhas à la Zé do Caixão, na peça Dorotéia, de
Nelson Rodrigues (2013), e raspou todos os pelos para ser um garoto de programa
em O Cachorro Riu Melhor, espetáculo dirigido por Cininha de Paula (2014). A
repaginação para a novela custou um preço alto ao ator, que tinha conquistado o
telespectador em Amor à Vida (2013), como o advogado Rafael, que se apaixonou
pela autista Linda (Bruna Linzmeyer). “Valorizo muito mais as mulheres depois
do Visky. Depilei a perna com cera para saber como era a dor. Eu gritava,
queria morder a cabeça da depiladora, tadinha. Não deu nada certo. Depois que
puxei com a cera, vi que isso não é de Deus. Me sinto um pouco Tony Ramos (no filme Se Eu Fosse Você) por
causa dos pelos. Queria ter o talento dele também”, brinca o brasiliense.
Apesar de a carreira ter deslanchado no eixo Rio-São Paulo, Rainer desenvolve
na Capital Federal o Projeto Centenário, que homenageia ícones artísticos:
“Começamos há três anos com Nelson Rodrigues, montando Dorotéia. Em 2013 foi o
nosso poetinha Vinícius de Moraes, com um show da Ellen Olério e o Paulinho
Moska e a peça Cordélia e o Peregrino, em que atuei ao lado da minha ex-mulher,
Aline Alves, que é mãe do meu filho, Pietro, de 8 anos. Este ano queremos
reverenciar a diva do jazz Billie Holiday!”
O Visky pode ter
algum rótulo dentro do movimento LGBT?
Tem tantas
nomenclaturas hoje que não sei em qual enquadrar o Visky dentro do movimento
LGBT. Ele é livre mesmo (gargalhada). Não se veste de mulher, mas se tiver uma
base e uma sombra que ele achar que vai ficar bonito, ele vai colocar-se tiver
um casaco, que ache que combina com o estilo feminino dele, vai usar. E o salto
altíssimo tem função porque ele é professor de desfile de passarela.
Esse personagem é o
outro lado da moeda do advogado Rafael?
Do Rafael pro Visky mudou tudo: a energia, o
olhar, o corpo, porque emagreci dez quilos, mudou o penteado. Fiquei mais gato,
brincam (risos). Visky vai do ódio ao
amor e tem um pezinho na comédia. Mas é sério quando precisa. É um personagem
muito colorido, que, além de ter humor, também emociona, e também é ácido. Tem muitas
camadas. Outro dia, um câmera que gravava as cenas do Rafael e da Linda em Amor
à Vida, depois de um mês em Verdades Secretas, soube que o Visky era o Rainer.
E disse: ‘Não acredito!’. Parou tudo e veio falar comigo. ‘Não sabia que era
você!”
Alguém do mundo
fashion lhe serviu de inspiração?
O Dudu Bertholini (estilista) é uma
inspiração. Mas fiz um trabalho muito grande de imersão para o Visky. Fui pra
Espanha fazer um curso com o Corazza (o argentino Juan Carlos) que é o
preparador do ator Javier Bardem. Fiquei lá dois meses, estudando corpo e voz,
assisti a muitas coisas. Foi muito bom! Voltei e me encontrei com o Namie Wihby
(professor de passarela). Fiz uma “cirurgia” com ele no meu pé, porque andar de
salto pra quem nunca experimentou é uma verdadeira cirurgia. E o mega hair
abaixo do ombro, então? Dormi com o cabelo curto e acordei com ele assim. Foi
uma loucura até me acostumar (risos).