Em entrevista à Minha Novela, a atriz diz que evita pessoas parecidas com sua personagem ‘Vou fazer o que? Não dá para ficar educando as pessoas a essa altura do campeonato’, diz
Quem nunca encontrou uma Nádia em seu caminho? Eliane Giardini, intérprete da polêmica personagem de O Outro Lado do Paraíso, reconhece que, infelizmente, ainda existem muitas mulheres como ela por aí. A paulista acredita que suas cenas na trama das 9 possam abrir os olhos do espectador. “Espero que sirva, pelo menos, para essas pessoas se identificarem com esse horror e ver que isso não é legal, que não vai para lugar nenhum”, torce a atriz, que foge deste tipo de gente. “Não sou amiga particularmente de nenhuma pessoa assim, mas a gente vê, né? Nos grupos de Whatsapp do condomínio, sempre aparece alguma coisa braba. Aí, saio do grupo (risos). Vou fazer o que? Não dá para ficar educando as pessoas a essa altura do campeonato. Todos têm que ler, se informar, se educar, porque isso faz parte de um comportamento egocêntrico, de não olhar o outro, de não incluir a diferença”, discursa. “Ao mesmo tempo que existe um avanço, rola esse recuo. Tem coisas que você já considera conquistadas e, de repente, perde. Quero esperar passar essa onda e ver a que ela veio, porque é uma onda retrógada no mundo inteiro”, completa a atriz, que acredita que os folhetins retratam o cotidiano. “É violência domestica, é racismo, mulher de juiz corrupto guardando propina na roupa… A gente não sabe se está no Jornal Nacional ainda ou se já entrou na novela. A ficção está tendo que correr atrás, porque a realidade está complicada”, afirma.
Racista, Nádia não suporta Raquel (Erika Januza) e fez de tudo para separar o filho, Bruno (Caio Paduan), da juíza. Foto: TV Globo
NÃO É NADA FÁCIL
A libriana admitiu que, no início, foi complicado falar os absurdos da ricaça, mas que o texto de Walcyr Carrasco sempre mostra um contraponto ao pensamento racista da Nádia. “Não tem uma cena que eu diga barbaridades, que não tenha um personagem me contradizendo. Isso é fundamental, funciona como um balizador”, explica. Uma das cenas mais marcantes para ela foi a que Nádia expulsou Raquel (Erika Januza) de sua casa. “Fiquei bem mal e ela também. Quando acabou, cobri a Erika de beijinhos, abracei muito (risos)”, lembra.
No ar também em Explode Coração (1995), com Lola, Eliane afirma que gosta de rever seus trabalhos antigos. Foto: Reprodução/Canal Viva
NADA PARECIDAS
Completamente diferente da Nádia, Eliane acha que o que falta à dondoca é educação. “A gente sempre tem esses aspectos todos, mas jogamos pra escanteio, escolhemos bons lados da nossa personalidade para nos representar. Às vezes, você até sente impulsos mesquinhos e egoístas, mas são coisas que você se educa e a Nádia é completamente deseducada (risos)”, explica. Outro detalhe que não combina com o estilo da atriz é o figurino da perua. “Vestir as roupas dela é a mesma coisa que usar um traje de Caminho das Índias (2009): é uma fantasia. Nádia tem uma bolsa que custa R$14 mil. Isso pra mim é outro mundo! O movimento é o oposto. Simplificar a vida, ir pro essencial. Mais pro ser do que tanto ter”, filosofa Eliane, que acha constrangedora a ostentação. “Quero viver com um certo conforto, prezo isso. O meu trabalho me proporciona uma vida boa, mas tem limite. É uma desigualdade tão violenta que não da pra você se sentir bem!”
Com o primeiro neto, Antônio, nascido em outubro, filho de sua caçula com Paulo Betti, Mariana. Foto: Instagram
AUTOESTIMA ELEVADA
Aos 65 anos, a paulista afirma que está bem consigo mesma, mas que isso é um trabalho eterno. “Todo mundo tem as suas melancolias, angústias, seus momentos de baixa estima, faz parte da natureza. Procuro me trabalhar. Faço análise há muitos anos, leio bastante, enfim, essas coisas que a gente faz pra fugir da angústia”, conta. O passar dos anos também não é um problema. “Não temos muita opção né (risos)? Às vezes, você se ressente, mas tem ganhos também. É preciso dar uma de Poliana e falar: ‘Eu estou mais leve agora’”, conclui.