Dona de uma alegria contagiante e uma versatilidade rara, a atriz se despe de sua doçura maternal para dar vida a Cunegundes, uma mãe desnaturada
Longe de ser folgada como Cunegundes, Elizabeth Savalla repete, pela oitava vez, a parceria com Walcyr Carrasco, autor da trama das 6. “Eu me divirto muito com ela”, revela a paulistana, de 61 anos, feliz com o sucesso da novela.
Cunegundes pode se arrepender de todo o mal que comete?
Cunegundes não tem muita noção de arrependimento. Ela quer tirar vantagem de tudo. O tempo que levaria se arrependendo, ela cria coisas novas. A vida corre, os credores estão aí, a dívida aumenta… Ela não tem princípios.
É muito complicado gravar na fazenda cenográfica?
É complicado sim. Tem animais de verdade e tem cheiro de fazenda mesmo. Gravamos no meio da mata atlântica, então, quando o dia está quente, faz muito calor, assim como em dias frios, é congelante. Além dos mosquitos. Enfrentamos muitas coisas difíceis por lá, que não transparece na telinha.
Você é muito maternal. Como é dar vida a uma mãe como ela?
Eu me divirto muito. Todas as maldades que a Cunegundes faz em relação às pessoas, o público sabe que é mentirinha, então, é muito bom fazer uma personagem assim. A gente faz com leveza. O público quase não percebe as maldades dela. Ninguém é carrasco impunimente, tanto que a Cunegundes sofre muito. Ela já caiu no chiqueiro, no lago, um raio já atingiu a cabeça dela… A Jezebel (de Chocolate com Pimenta, 2003), passava por essas coisas também. Ela fazia muita vilania, mas, como era punida, era querida pelo público. A Cunegundes também é assim. E, agora, mais afeiçoada ao neto, Quincão, vai se humanizar ainda mais.
Como vê o sucesso da novela?
Estou viajando com o meu espetáculo (A.M.A.D.A.S – Associação de Mulheres que Acordam Despencadas) e recebo o carinho do público em relação à novela. Estive em Recife (PE) e lá demos 50 pontos de audiência. É uma loucura! É altíssimo para qualquer horário hoje. Sou de uma época em que dávamos 98 pontos, mas, atualmente, com tanta concorrência, é difícil. O público ama a gente. É bem parecido quando fazia a Márcia, de Amor à Vida (20013), que também fez sucesso.
Como é com o público nas ruas?
Quase não dá pra sair quando estou gravando. Mas, outro dia, eu estava indo a um supermercado, em Ipanema (Zona Sul do Rio), e um taxista abriu a janela e gritou em alto e bom som: “Cunegundes!” Levei um susto tão grande! Fui aplaudida no meio de Ipanema. Fiquei muito agradecida. Não esperava.
Como você faz para conseguir manter esse bom humor?
Tento desligar dos problemas pessoais quando estou trabalhando. Não levo nada para o set, nem celular. Apenas o roteiro e meus óculos.
A Cunegundes gosta muito de luxo. Você também é assim?
Acho tudo uma bobagem. Aprendi com a minha família que o homem tem que ser íntegro e honesto. A educação também é primordial. Meu pai me ensinou que as coisas mais importantes são: ter as contas pagas, uma boa despensa, um teto para morar e ter um nome limpo.
Não tem sonhos de consumo?
Eu jamais pagaria R$ 35mil numa bolsa, por exemplo. Ainda mais num país onde muita gente passa dificuldade. Para mim, cada item tem uma função. No caso da bolsa é carregar seus objetos pessoais. Sapato é para proteger os pés. O que importa é você, o seu nome. É isso que a gente tem que saber honrar.