A atriz, que rouba a cena em ‘A Força do Querer’, diz que sua intuição é poderosa
Tem gente que dispensa qualquer apresentação, mas poucos são como Elizangela, que pode deixar de lado até mesmo o sobrenome. Afinal, desde os 7 anos que a estrela mostra todo o seu talento na telinha, quando começou na extinta TV Excelsior, no Rio. Hoje, aos 62 anos, brilha na pele da sofrida Aurora, a mãe da perigosa e descabeçada Bibi (Juliana Paes) em A Força do Querer.
E nem só de novelas se alimenta a vasta coleção de trabalhos da artista. Apesar de inúmeros papéis marcantes em tramas como Locomotivas (1977), Bandeira 2 (1971) e Pedra Sobre Pedra (1992), Elizangela também é lembrada pelo sucesso como apresentadora e na música. Em 1978, explodiu com Pertinho de Você, que ficou entre as mais tocadas no país por 52 semanas. Mas… “Aquela época já foi, só volto a ser cantora em um karaokê com os amigos”, diz brincando.
Intérprete das boas, atualmente ela arrasa em dose tripla na telinha. Além da trama em horário nobre, está no ar em Senhora do Destino (2004), no Vale a Pena Ver de Novo, e em Por Amor (1997), em reprise no Viva. “Não costumo ser muito boazinha comigo, não. Assisto às novelas na boa, mas é só chegar às minha cenas que não consigo mais ver”, revela Elizangela, que também já roubou a cena em folhetins na antiga Manchete, no SBT e na Record TV. “Não vou dizer que sou rodada que pega mal”, dispara, às gargalhadas.
Assim como Aurora, a bela é uma mãe de mão-cheia para Marcelle Vergueiro, 42 anos, sua única filha, fruto do primeiro casamento, com o engenheiro Jorge Moreira. “Mas ela, lógico, nem de longe não dá problema igual a Bibi. Aquela ali deve ter é perturbação”, analisa ela, que, para o papel, se inspirou na grande mulher de sua vida, a mãe, Rosalinda do Amaral, que nos deixou dia 4 último, aos 93 anos.
TITITI – A Aurora tem uma intuição forte. Tanto que nunca gostou do Rubinho (Emilio Dantas). Alguma vez seu sexto sentido já lhe avisou sobre algum romance que viria a ser furado?
Elizangela – Meu sexto sentido já me avisou de muitas coisas, inclusive que uma relação não iria dar certo, sim. Porém, todo mundo estava encantado com o dito cujo. E viviam me dizendo que eu não estava me permitindo ser feliz (ao não investir no romance). Eu não queria, mas fizeram minha cabeça para querer. Fui pelos outros e dancei feio, muito feio. Foi uma grande decepção, certamente.
TITITI – Já acreditou em príncipe encantado?
Na vida real não existe ninguém perfeito. Muito menos do jeito que o Rubinho se pinta. Isso é conto da carochinha.
TITITI – A maturidade ajuda a enxergar melhor as ciladas?
As pancadas vão deixando a gente mais atenta, certamente. Para alguma coisa a idade tem de servir, né (risos)? O seu olhar vai mudando conforme tudo acontece.
TITITI – Aliás, como você lida com o passar do tempo?
O único lado ruim é que conforme você aprende melhor sobre a vida, percebe que o caminho está ficando menor. Acho isso uma safadeza (risos)! Aos 50 anos é que as coisas ficam meio estranhas. Você entra na fase de mudança hormonal e tudo se modifica. Mas não tenho temperamento para ser escrava da beleza, querendo me manter como aos 20 anos. Se você faz isso, não encara o hoje e nem o amanhã. Até porque o amanhã vai ser muito pior, então deixa quieto e vai se acostumando (gargalhadas)!
TITITI – Mas como se cuida?
Mantenho a minha pele muito limpa, sempre. É um saco, mas tem que fazer. Não durmo com cremes nem nada disso. Acho que tem de respirar. Não faço nada excepcional. Tenho um problema com meu peso que é uma coisa! Aos 40, surgiu um problema na tireoide e desde então brigo com ela (risos). Tomo remédios, mas vira e mexe desregula. É genético. Somos três irmãs e todas têm. Herança do meu pai… Preferia ter herdado mesmo era uns milhões!
TITITI – Os netos já chegaram?
Tenho uma vontade louca de ser avó. Já cobrei uma vez da minha filha, mas faz tempo. Reclamei com ela que a família ia acabar na gente (risos). Eu e Marcelle temos pensamentos bem diferentes, mas não fugiria da regra na hora de cuidar de um neto. Antigamente, tinha aquela coisa de que os avós eram para estragar os netos. Hoje não.
TITITI – E sua saudosa e querida mãe? “Estragou” muito sua filha no melhor dos sentidos?
Ela fez algumas estripulias que acho errado. Na minha casa, por exemplo, não entrava refrigerante. Minha filha só tinha o hábito de tomar isso em dia de festa. Até que descobri: Marcelle tomava sempre na casa da minha mãe! Ah, então era por isso que ela adorava ir lá (risos). Mas não posso reclamar, também tiveram coisas bem legais. Ela sempre andou de carro e amou quando a avó a levou para passear de ônibus pela primeira vez. Ela sonhava com isso e achei genial!
TITITI – Já pensou se ela enveredasse para um submundo, como aconteceu com Bibi?
Não consigo nem imaginar! Eu enlouqueceria, choraria dia e noite. Filho é um projeto de vida. Você cria para o mundo e não para você, mas busca educar um ser humano de qualidade, que vá servir à sociedade, ao outro, com seu potencial humano e profissional da melhor maneira. Ver um filho enveredar por um caminho torto, podendo ter uma vida linda, acaba com qualquer mãe.
TITITI – E essa parceria com Juliana Paes?
A gente tem a mesma vibe, mas não necessariamente a semelhança física. Temos um jeitão alegre, sorrisão escancarado, a gente ri alto, temos uma sinceridade no ser. Acho que é por aí. Ah, meu bem, eu também já fui uma Juliana Paes antigamente. Todo mundo tem seus dias de glória (gargalhadas)!
TITITI – E gosta de uma gafieira como a Aurora?
Nunca fui de sair muito, mas já tive meus momentos lá nos anos 80, quando me separei do pai da minha filha. Era uma beleza (risos). Vivenciei tudo o que tinha para viver, namorei muito, mas hoje tenho uma preguiça… Não gosto de lugar barulhento, porque adoro bater papo. Então, prefiro estar na casa de amigos ou recebê-los na minha.
TITITI – Por que não continuou na carreira musical, que deu tão certo?
Eu poderia estar rica hoje, era um absurdo o que eles pagavam naquela época. Mas, tenho certeza, fiz a escolha certa. Minha paixão é o teatro. Eu teria de parar tudo, fazer shows. Minha filha até já tinha nascido naquela época. Não dava para conciliar. Mas já sonhei em ter um disco, uma banda, repertório. Porém, acabei batendo de frente com a minha gravadora, porque queria uma coisa e ela, outra. A coisa ficou esquisita e decidi que não queria aquilo para mim.