Segundo o ator, seu personagem reencarna como um homem que só quer dar identidade às coisas
De cabelos mais curtos e barba mais rala, Felipe Camargo dá
adeus ao Bernardo, da antiga fase de Além do Tempo. E encara o desafio de viver
o novo personagem na segunda fase da trama. Agora, Bernardo é apaixonado por
vinho e escreve livros sobre o tema como ninguém. Seu trabalho é reconhecido
pelo mundo afora e ganha diversos prêmios. Embora Felipe não seja apreciador de
vinhos como Bernardo, o carioca conta o que fez para se inteirar do assunto e
revela como foi a transformação de visual.
Qual é o balanço que você faz do seu trabalho na primeira
fase?
Fui superfeliz. Amo o Bernardo, um personagem riquíssimo.
Não esperava fazer um papel tão difícil e delicado.
É mais fácil viver um personagem atual do que um de época?
A dificuldade é outra. Não existe personagem fácil. Se a
gente entra com esse pensamento, já sai perdendo. É quase como um jogo de
futebol, você não pode achar que é fácil. Tudo é surpresa. Sempre penso que é
uma coisa nova. Apesar de eu nunca ter feito um papel parecido com o Bernardo
dessa segunda fase. Nunca interpretei um escritor. É um cara que tem as ideias
articuladas, que se expressa e escreve bem, enfim, tem um raciocínio linear,
uma memória perfeita. Então é outra história. Eu espero que Deus me dê muita
inspiração. O segredo é entregar com confiança. A gente está sempre saltando
para o abismo, espero que as asas venham.
Quais são as principais diferenças entre o Bernardo da
primeira fase e do personagem atual?
É como se fosse a mesma alma em outra pessoa. Mas não é nada
do Bernardo desmemoriado. O novo Bernardo tem outra história de vida. O mais
interessante é um cara que foi desmemoriado em outra vida, vem nessa nova vida
preocupado em dar memórias às coisas, em registrar tudo. Eu acho isso bem bacana.
Como foi a mudança de personagens de forma tão rápida?
A gente tem muita coisa para se concentrar. A tendência é
pensar no personagem antigo. Então, praticamente, apaguei o antigo Bernardo da
minha mente para dar vida ao novo. No corpo, tirei o mega hair e boa parte da
barba. Durante a primeira fase, o cabelo foi crescendo junto com o mega hair,
porque ele puxa o fio mais ainda. Ajuda a crescer. Foi boa a mudança. Muitas
vezes mudo o físico por causa do trabalho. Já engordei para o Orlando, do filme
Xingu (2012), que era mais cheinho. A verdade é que emagrecer é mais difícil
(risos).
Já está um expert em vinhos?
Eu não bebo vinho. Pesquisei sobre o tema. Vi filmes como
Sideways (2004), uma produção sobre a Napa Valley (região de vinícolas na
Califórnia, EUA). Mas Bernardo tem um grande mistério, não é só o gosto pelos
vinhos.
Você acredita em reencarnação?
Acredito. A fé que eu tenho é que a gente não veio do
absolutamente nada, explode que nem uma pipoca, começa a viver e, depois, volta
para o nada. Acho que existem outras vidas. Agora, não fico querendo saber o
que serei na outra vida. Não deve ser tão exato assim. As coisas são mais
loucas. O universo é infinito para todos os lados. O infinito não é uma reta.
Esse é um papo muito metafísico (risos). Isso aqui é uma passagem, mas não sei
pra onde.