Aos 84 anos, a artista Yoko Ono segue firme no propósito de engajar as pessoas na construção de uma sociedade pacífica e irmanada. A verve solidária não deixa dúvidas de que a esperança é sua força motriz
Difícil falar de Yoko Ono sem esbarrar em John Lennon. O casal pop tinha muitas coisas em comum. Uma delas segue viva na obra da artista oriental: o ativismo. Se nos anos 1960 o foco era condenar a Guerra do Vietnã, hoje temos a Síria – para ficar num único exemplo. Não sem razão, a japonesa radicada em Nova York continua desejando um mundo mais pacífi co, como sugere a canção Give Peace a Chance, composta pelo ex-beatle em 1969.
Esse foi o ano em que os dois se casaram e, em plena lua de mel, fizeram o famoso protesto batizado de “Bed-in for Peace”. Por sete dias o casal recebeu a imprensa e concedeu entrevistas deitado na cama do hotel Hilton em Amsterdã. O humor pacífico deveria se sobrepor à truculência, acreditavam. E assim se posicionaram contra a guerra no Sudeste Asiático.
Uma das artistas experimentais e de vanguarda mais respeitadas do mundo, Yoko jamais abandonou o compromisso com a denúncia político-social. Nas últimas décadas, emplacou campanhas contra a fome, as armas, o descaso com o meio ambiente, a violência contra as mulheres, o racismo, a homofobia etc. A inquietação persiste, mesmo com a idade avançada. “Temos que fazer algo a respeito deste mundo”, disparou.
Dentre tantas demandas geradas por um planeta complexo como o nosso, a paz continua sendo, para ela, o estandarte-mor. Em 2007, a artista inaugurou, na Islândia, uma escultura de luz azul intitulada Torre Imagine a Paz, em homenagem à memória de Lennon e à canção que se tornou um hino por uma sociedade mais harmônica. O feixe luminoso se acende todos os anos em 9 de outubro, data do nascimento do músico, e se apaga em 8 de dezembro, aniversário de sua morte. Na inauguração, ela declarou: “Espero que, quando a luz da torre brilhar, o mundo pare por um momento e imagine a paz”. Desacelerar, refi nar a refl exão, olhar para o lado, enxergar o próximo. Essas questões rondam a artista. “Acho muito
perigoso estarmos caminhando rumo a um estado de interações limitadas em vez de tentarmos nos conhecer por meio de pensamentos mais profundos”, declarou. A falta de entendimento entre as pessoas também a aflige. “Estamos sempre tentando acelerar tudo, mas nisso perdemos muito. Precisamos criar situações para entendermos uns aos outros.”
Quem visitou a mostra interativa O Céu Ainda É Azul, Você Sabe…, que passou recentemente pelo Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, teve a chance de se sintonizar com o universo de Yoko. Lá havia 65 convites para o público realizar determinadas propostas – criadas desde os anos 1950. Acenda um fósforo e assista até que se apague, imagine a paz, toquem uns nos outros, juntem suas sombras até que elas se tornem uma única. Ao vivenciarmos a arte, podemos perceber um vasto espectro de sentimentos. É assim que Yoko quer acordar o melhor que nos habita, para que possamos fazer do mundo “um lugar de amor e alegria, e não um lugar de medo e raiva”.
Nascida em Tóquio, no Japão, em 1933, Yoko Ono pertencia a uma abastada família. Em 1952, se mudou com os pais para Nova York, onde estabeleceu raízes. Lá seguiu estudando
artes e se relacionando com artistas de vanguarda. Nos anos 1950 e 1960, realizou importantes obras de cunho conceitual e performático. Em 1966, John Lennon visitou uma exposição da artista e se encantou com seu trabalho. Casaram-se em 1969 e cultivaram uma frutífera parceria, explorando, juntos, a música experimental e consolidando o ativismo político-social. As criações de Yoko transitam pelas artes plásticas, performance, poesia e música. Nesta última seara, o fi ho Sean Ono Lennon virou grande colaborador. imaginepeace.com