A atriz que interpreta a Rose, em ‘Justiça’, comenta seu papel
Com apenas 24 anos, Jéssica Ellen carrega em sua carreira personagens fortes e polêmicos. Em Justiça, não é diferente. Rose foi presa após ter sido flagrada carregando drogas. Por ser negra, a jovem foi a única a ser revistada na noite da prisão e passou sete anos atrás das grades. Antes de dar vida à Rose, Jéssica interpretou a homossexual Adele, em Totalmente Demais (2015) e causou debates em todo o país sobre a homofobia. Madura, a carioca defende o empoderamento feminino e a importância do negro ter acesso a bens coletivos como cultura e educação. Confira!
Qual é a importância de discutir assuntos polêmicos na TV ?
Abordamos temas que a gente precisa discutir. Na minha trama, falamos sobre racismo e a violência contra a mulher. Só tem coisas intensas e difíceis. Vivemos numa sociedade machista, que vê a mulher como um objeto. O machismo está dentro não apenas dos homens, mas também de mulheres, que não tem a autoestima empoderada. É importante falar sobre isso porque acontece todos os dias. É um retrato da nossa sociedade.
O racismo também acontece a toda hora, em todo lugar…
Nosso país foi um dos últimos a abolir a escravidão. Infelizmente, ainda não estamos acostumados a ver o negro num lugar bem-sucedido. Os negros, hoje em dia, em sua maioria, ainda não têm acesso à educação. A gente só consegue mudar a história do país e das pessoas através da educação e da cultura. O poder público ainda não investiu nisso como deveria.
E você? Já sofreu ofensas racistas alguma vez?
Todo negro já sofreu preconceito. Lembro que, quando era mais nova, tinha vergonha do meu cabelo porque todo mundo me zoava na escola por conta dele. Então, eu o alisava na adolescência. Deixava o meu cabelo sem cachos, para poder ser aceita no grupo de amigos e não virar motivo de piada. A geração que está vindo não está tendo esse tipo de referência porque o empoderamento feminino está em alta. Estamos caminhando em passos lentos para um mundo melhor. O importante é continuar na luta.
Você teve contato com usuários de drogas, por conta da série?
Eu nunca convivi com alguém que tenha passado por isso. As drogas são um problema de saúde pública. Nunca tive vontade de usar, nem mesmo tive contato. Sempre fui adepta de uma vida saudável, pratico esporte, bebo muita água e me alimento muito bem.
Como se sente sendo porta-voz de vários temas importantes?
A função do ator é, através da arte, questionar o mundo. Me sinto honrada em discutir temas assim em nossa sociedade, que é bastante preconceituosa. Fico feliz por ter a chance de fazer personagens com o intuito de plantar sementinhas para as pessoas se questionarem. A gente é diferente, só temos que saber conviver com essas diferenças.
Como foi viver a homossexual Adele, em Totalmente Demais?
Foi ótimo. Era uma história alegre. Vivemos num mundo tenso e a trama veio numa boa hora. Até hoje me abordam, elogiando a novela.