Linda, culta e muito bem informada, a atriz também contou detalhes da sua personagem em ‘Liberdade, Liberdade’
“Uma mulher com fortes contradições.” Assim Maitê Proença define a autoritária e sofrida Dionísia, de Liberdade, Liberdade. Ela enumera exemplos, como o fato de a personagem amar os protocolos, as regras da corte e ser extremamente católica. Ela sofreu com a violência sexual, física e psicológica do marido Terenciano (Jackson Antunes), mas tem um lado B forte. “Dionísia submete seus escravos à prática sexuais que ela comanda e, quando não sai do jeito que ela quer, manda para o pelourinho. Oh, que delícia!”, brinca a atriz. Nesse jogo de poder, o escravo Saviano (David Junior) é o objeto de desejo de Dionísia. Com um sorriso maroto, Maitê bota mais lenha na fogueira. “Acho que a Dionísia gosta um pouco do Saviano. Ele dá tanto prazer a ela, né? E é lindo. Novela é uma obra aberta…”, insinua a musa, de 58 anos.
Você vê alguma perspectiva de mudança em relação a todo o tipo de submissão a que muitas mulheres estão sujeitas até hoje?
Vai demorar muito para mudar. É a escravidão da mulher que ainda existe. Nos países asiáticos, árabes, as mulheres são submetidas a terem filhos que elas não desejam, porque não têm dinheiro próprio, não têm direito à herança, não têm direito à educação e ao trabalho. Elas são escravas. E não é só nos países árabes. Isso acontece aqui do lado da nossa casa. Elas são obrigadas a ficar com homens que as espancam, porque não têm o que comer de outra forma. O marido é o emprego. É um problema muito sério.
Dionísia pode ajudar as mulheres a denunciarem essa violência?
Pode ser. É bem possível, porque estamos fazendo de uma forma verdadeira. A melhor maneira de as pessoas falarem sobre as coisas, é ouvindo histórias. Sempre foi assim, desde que o mundo é mundo.
Você acredita que a Dionísia tem alguma coisa da Maitê?
Espero que sim, porque boto todos os meus sentimentos ali. A gente sempre tenta compreender os personagens. Da mesma maneira quando a gente é casado, é obrigado a engolir uma série de coisas que não quer, senão o relacionamento não é possível. Os filhos fazem coisas que a gente não aprova. E você continua amando essas pessoas. Assim são as relações humanas. O único lugar para poder interpretar o personagem com verdade é esse: o da aceitação completa daquilo.
A nudez na TV era vista com mais naturalidade. Hoje o público não tem aceitado mais tão bem…
Houve abuso. E aí o público não gosta, porque sente que está sendo usado. Diz: ‘acha que sou tão bobinho? Por causa desse peito vão me pegar para a audiência?’ Aconteceu muito disso: uma vulgarização no uso da nudez. É bom fazer, quando é necessário, se vai contribuir para contar a história e não é só um mecanismo de caçar o telespectador.
A novela tem um cunho político forte. E o Brasil pegando fogo justamente nesse segmento…
Acho super apropriado. As histórias não mudam muito. A gente briga pelos mesmos direitos, desde sempre. A novela tem esse viés, que veio a calhar. Fico muito feliz que a gente esteja contando essa história agora, nesse momento de virada. Na trama é o período em que a corte estava chegando ao Brasil, estava introduzindo uma série de novidades culturais. No Brasil de hoje seria muito bem-vindo se a gente incentivasse a educação e a cultura no país, porque o povo só fica digno se tiver acesso a esses bens.