Com mais de cinco décadas de carreira, ele exalta os tempos áureos da telinha
Dono de um currículo de tirar o chapéu, Ary Fontoura é a memória viva da TV brasileira. Aos 83 anos, o ator elogia o trabalho do autor Walcyr Carrasco, com quem mantém uma parceria contínua em mais de sete novelas e, hoje, o presenteia com o Quinzinho, de Êta Mundo Bom!. E são sete entre quase 50 tramas em que o veterano atuou. “A profissão de ator é ingrata. Alguns são felizardos e escolhem fazer ou não muitas novelas. Mas a maioria não é assim. Enfrenta uma luta constante e escolhe os bons papéis que aparecem. Tenho 50 anos de carreira, é como uma novela por ano. Preenchi uma vida inteira com isso, novelas boas e outras não”, afirma. Confira a entrevista com o mestre!
Por que você acha que Êta Mundo Bom! encanta tanto o público?
Nossa novela é feita para sonhar. O lúdico tem uma presença enorme e olhamos para a vida com humor e otimismo. O que é um charme do Walcyr Carrasco, que permite nos fazer sonhar e acreditar no próximo.
E como está sendo trabalhar novamente com o Walcyr?
Vejo nele um dos poucos de sua profissão que sabem reconhecer o potencial que têm os personagens e seus atores. Ele consegue escrever capítulos inteiros numa tarde. E estou tendo um grande reencontro com a minha querida amiga Elizabeth Savalla.
Você e a Elizabeth Savalla são considerados referências para os jovens atores. Como enxerga isso?
É interessante quando o reconhecimento acontece. Também tive minhas referências, como a Cacilda Becker, mas, naquela época, costumava-se ser mais auto-didata. Os atores antigos sempre trazem o passado como referência para o futuro.
Seu currículo é bastante extenso. Quais são os trabalhos que você guarda com mais carinho?
Aponto, nesse caso, Amor Com Amor Se Paga (1984), novela baseada na peça O Avarento, de Moliére. Foi nela que vivi Nonô Correia, personagem muito popular junto ao público. Ele era um pão-duro. Na rua, ainda me chamam de Nonô, então, se for por essa popularidade, caso eu tivesse que mudar de nome, escolheria o dele.
Gostaria de ter feito algum papel que ainda não interpretou?
Nunca fui um galã. Nunca tive jeito para isso, nunca fui um homem bonito. Ou estou me subestimando e já despertei desejos em alguém (risos)? Mas há espaço para todos os tipos em uma boa história. Gosto de ser capaz de mostrar um lado diferente, não só de heróis se faz a vida.
Isso te dá mais oportunidades…
Sim, gosto de desenvolver um tipo que não vai ser muito repetido. O que é fundamental, principalmente, em momentos específicos. Como quando fiz Roque Santeiro (1985), em um período tão duro como foi o da ditadura. Por baixo dos panos, a enfrentamos e conseguimos mandar mensagens para o povo. Precisávamos perceber que estávamos vivendo num sistema que não era tão bom quanto afirmavam.
Acredita que os atores jovens utilizam dessa voz hoje?
Atores devem ter voz ativa e se manifestar, embora alguns não tenham essa vontade. É uma pena, porque o mundo pertence aos jovens. A internet é uma febre e os atores usam muito para se comunicar com os fãs.
O senhor é adepto?
Tenho uma página no Facebook, que tem mais de 2 milhões de pessoas curtindo! E faço questão de estar por lá. Sinto que existe um carinho do público pelo meu trabalho, o que me leva a tentar ser ainda melhor no que faço.
Pensa em se aposentar?
Não! Gosto de viver e trabalhar. Apesar dos pesares, a vida é importante. Sou otimista e cuido bem da minha.