O ator afirma que não vive de passado e avisa que não quer ir para o céu
Quando aceitou fazer parte do elenco de Orgulho e Paixão, Ary Fontoura soube que só ficaria na novela até o capítulo 40, já que Afrânio deveria morrer. Mas o jeito com que ele construiu o Barão de Ouro Verde fez com que o nobre continuasse na história. “A gente que trabalha em novela nunca deve fechar o personagem definitivamente, porque é uma narrativa que está sendo criada e os autores, vendo o trabalho da gente, acabam aprimorando a história”, ensina “Então, o Barão virou um papel ótimo de fazer, porque ele é tudo, tem todas as virtudes, as bondades e as maldades que um ser humano poderia ter. O que um ator quer mais do que isso? Você pode se esbaldar nesse trabalho e quem ganha com isso é quem assiste”, ressalta.
Seu Nonô, de Amor com Amor se Paga, marcou e até hoje o personagem é lembrado pelos fãs. Foto: Divulgação/Rede Globo
Chamado até hoje pelos fãs de Nonô Corrêa, seu personagem em Amor com Amor se Paga (1984), o ator está vendo a história se repetir. O Barão é tão ranzinza quanto o mão de vaca dos anos 80, mas, mesmo assim, conquistou o espectador. “Isso é gratificante. Não é demagogia, mas eu sou o que sou em função do público que me vê. Se ele desliga a televisão, eu desapareço. Se não vai ao cinema ou ao teatro me ver, eu também já não estou funcionando. A profissão da gente quem faz é o público”, explica o curitibano, que não se acomoda com os elogios e procura evoluir a cada trabalho. “Você tem que se renovar sempre, para que continuem gostando de você cada vez mais. Se a audiência te elegeu, o espectador merece o melhor de você”, ensina.
QUEM VIVE DE PASSADO…
Diferente do personagem, que não aceita seu presente e se prende à época em que tinha uma vida luxuosa, o que importa para Ary é o hoje. “Eu não vivo do passado, não sou caranguejo, não ando pra trás. Só guardo o que foi bom. Meu futuro é hoje, porque não posso premeditar o que vai acontecer daqui a um minuto. O futuro pode estar presente e eu o trouxe pra cá. Então eu vivo dia a dia”, explica o aquariano, que procura se tornar uma pessoa cada vez melhor. “Eu tenho o céu e inferno dentro de mim. Não pense que tenho só qualidades, mas tenho a noção perfeita de quando estou sendo mau e de quando estou sendo bom. Às vezes, conversando comigo mesmo, começo a ver tudo o que fiz de errado e procuro corrigir”, conta. “Não quero ir para o céu, não deve ser animado (risos)”, afirma o artista, que agradece a Deus, a família e aos amigos por tudo o que conquistou.
Frágil, o Barão é cadeirante: “É a minha cruz, vou ter que carregar essa cadeira até o final (riso).” Foto: Raquel Cunha/Globo
CADA UM NO SEU QUADRADO
Solteiro e sem filhos, o curitibano conta que não ficou sozinho a vida toda. “Eu nunca casei, mas tive ligações afetivas que duraram muito tempo e da maneira como sempre desejei”, revela. “Pra mim a felicidade tem três andares: No último você mora, no primeiro eu moro e no meio a gente se encontra. Isso é no sentido figurado, claro, mas acho que, quem ama, gosta perto ou longe. O amor não necessita da sua presença constante. É muito divertido, um não ultrapassa o espaço do outro. Eu tenho a minha vida, você tem a sua e nós temos a nossa”, discorre.
CONECTADO
Aos 85 anos, Ary surpreende ainda ao mostrar que está por dentro das redes sociais. Cansado do Facebook e ouvindo indicações sobre o Instagram, o ator resolveu experimentar. “Acho esse mais fácil, pode colocar uma fotografia… Mas é de um egocentrismo tremendo, né? Agora estou em casa, agora estou comendo… (risos)”, diverte-se. “Entrei nessa jogada. Todo mundo está fazendo, por que não? Não faz mal a ninguém, você está dando uma satisfação às pessoas que gostam de você e, sempre que posso, eu respondo”, garante o aquariano, que já tem mais de 145 mil seguidores.
No Instagram, o ator mostra um pouco de sua rotina. Na foto, ele e Nathalia Dill. Foto: Instagram
CANSADO? JAMAIS!
No batente desde os oito anos, o ator avisa que parar não é uma opção. “O meu grande hobby na vida é trabalhar. Ocupar-se pra mim é muito importante e eu ainda estou com uma memória boa, gosto de representar, então, estou como um pinto no lixo (risos)”, garante o artista, que também não vê problema em mudar. “Se parar de fazer arte, vou tentar outra coisa: lavar louça, ser diarista, estou aberto para qualquer coisa, para recomeçar sempre!”, avisa. “Sou feliz demais e, sobretudo, pela minha boa saúde, que é uma coisa que eu cuido bastante. Não sou milionário, mas também não sou tão pobre assim e posso viver bem o restante do meu tempo. Tenho a consciência tranquila, nunca fiz voluntariamente mal a ninguém e, quando fiz, corri para pedir desculpa, porque era um mau momento. Vivo assim e vivo muito bem”, ensina.