Há quem aposte na bicicleta como instrumento de subversão da (des)ordem estabelecida nas grandes cidades, já que é impossível pedalar pelas ruas sem desejar espaços públicos mais amigáveis
RENATA FALZONI, publisher do portal Bike é Legal.com e cicloativista em São Paulo, é formada em arquitetura. Descobriu cedo o valor da bicicleta como meio de transporte e há tempos repara em um dado curioso: sempre existem ciclistas por trás das mudanças sustentáveis que estão borbulhando nas nossas metrópoles.
1- Quando a bicicleta virou meio de transporte em São Paulo?
Além da questão lúcida, as bicicletas sempre estiveram relacionadas aos deslocamentos urbanos. As bikes entraram na cidade para ser meio de transporte dos imigrantes europeus que vieram trabalhar como operários nas novas fábricas. Mas essa memória foi perdida pela indústria automobilística que, nas últimas décadas, confinou os ciclistas a uma ideia de esporte de rendimento, artigo de luxo, elitista, o que não representa a realidade.
2– Trocar o carro pela magrela impulsiona as pessoas a aderirem a outros hábitos “verdes”?
Quando um cidadão passa a se locomover de bike, ele logo consegue listar uma série de problemas urbanos que antes passavam despercebidos, como os buracos nas calçadas e a falta de passarelas. Ele começa a questionar e a querer não apenas ciclovias novas, mas uma cidade mais acessível. Com isso, toda a cidade se humaniza porque é o interesse público falando mais alto do que o interesse privado.
3- O custo energético e ambiental do petróleo faz parte da consciência do novo cidadão ciclista?
Nenhum ciclista é perdulário de energia. No carro, o cidadão coloca R$ 200 de gasolina e não estabelece uma relação de gasto de energia. Na bike, o ciclista sabe quanto a mais de esforço precisará para carregar um presente de 2 kg na garupa para levar à festa do amigo. Além disso, a bicicleta é o único meio de transporte que não geraria uma crise energética se todos os habitantes do planeta resolvessem usá-la ao mesmo tempo.