No ar como a lésbica Esther, na novela Sete Vidas, ela fala sobre o novo trabalho e reclama do burburinho em torno da orientação sexual da personagem
Com 50 anos de carreira e totalizando
111 personagens na TV Globo, Regina Duarte interpreta a primeira homossexual de
sua carreira em Sete Vidas. Na trama de Lícia Manzo, a atriz é Esther, viúva de
Vivian, que realizou o sonho de ser mãe através de inseminação artificial. No
entanto, o burburinho envolvendo a orientação sexual de Esther incomoda a
atriz. “Fico chocada que o fato de ela ser homossexual possa impressionar tanto
as pessoas como se fosse uma marciana”, reclama a diva de 68 anos, que se
revela fã de Lícia Manzo desde que assistiu A Vida da Gente (2011). “É um
projeto que assino embaixo mesmo que não estivesse nele. Considero mais um
presente para minha carreira”, comemora.
Como o público está reagindo ao vê-la
vivendo uma homossexual?
Ainda não sei. Mas ela tem uma
infinidade de qualidades antes de chamá-la de homossexual. É só um detalhe.
Ninguém chega para descrever alguém dizendo que é gay. Não é estranho? Eu
jamais descreveria um amigo assim. Mas falar sobre esta fase homossexual dela,
eu chamaria assim, porque seria estranho condenar alguém a ser homossexual para
sempre, porque você a limita a uma
heterossexualidade à qual ela tem direito na existência dela. De qualquer
forma, é bom e saudável falar disso.
Mas é inegável que a orientação
sexual dela é um dos assuntos mais comentados da novela…
O fato de ser divulgado no início das
gravações que ela era gay provocou um interesse imenso e extraordinário, que me
assusta. Eu fico chocada de perceber que ela ser homossexual e ter vivido um
casamento com uma pessoa do mesmo sexo possa impressionar tanto as pessoas como
se ela fosse uma marciana.
Como você a definiria?
Ela é extraordinária, solar. É a
mulher que eu quero ser quando eu crescer. Uma pessoa aberta, livre, que assume
suas preferências e que não está condenada à rótulo.
O fato de outras veteranas, como
Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg viverem um casal gay em Babilônia, pode
acabar com o preconceito uma vez por todas?
Isso é um tema que foi tabu durante
muitos anos, assim como mulher trabalhar fora e pílula anticoncepcional. Chega
um momento em que existe a necessidade de retratar estes assuntos na
teledramaturgia. É uma proposta de reflexão sempre válida.
Esther adora viver rodeada pelos
netos. Como é a sua relação com os seus netos na vida real?
A melhor possível!
No começo, já chegava pronta, com um monte de propostas de brincadeiras, mas a
experiência mostra que o negócio é ficar disponível para as crianças.
Você está completando 50 anos de
carreira. Como se sente?
Muito satisfeita. Minha carreira foi construída degrau
por degrau, pedacinho por pedacinho. Sou movida pela paixão. E é este
sentimento que me conduz agora, com a Esther. Fiz muitas coisas nos últimos 50
anos, mas isto que está acontecendo é novo. É o somatório de ingredientes que
nunca estiveram juntos antes. É um papel extraordinário para a minha carreira.