A atriz dá uma banana para o preconceito sofrido na web e brilha como a poderosa Michele, de Mister Brau
Taís Araújo dança e encanta como Michele, em Mister Brau. No
seriado, a bailarina, nascida em Madureira, não perdeu as raízes, mesmo depois
que o marido, Brau (Lázaro Ramos), virou um popstar internacional. Na vida
real, Taís também faz uma verdadeira dança para dar conta do trabalho e da
função de mãe e esposa. João Vicente, de quatro anos, e Maria Antônia, de quase
um aninho, são filhos da atriz com Lázaro Ramos, com quem contracena na série.
A atriz, de 37 anos, completa 20 anos de carreira, e está em vários projetos,
além do seriado, como a peça O Topo da Montanha (também com Lázaro, em cartaz
no Teatro Faap, em São Paulo) e o filme das Empreguetes, derivado do sucesso da
novela Cheias de Charme (2012), que será rodado em 2016. Taís representa a
mulher brasileira forte e que se desdobra em mil. Mas, recentemente, foi vítima
de injúria racial em seu perfil em uma rede social. A carioca fez questão de
não ficar calada e denunciou o ocorrido
à polícia. Enquanto o processo corre na Justiça, Taís revela seu segredo
para conseguir conciliar tantas atividades e fala sobre a importância de Mister
Brau para o cenário brasileiro atual.
Como nasceu a Michele?
Geralmente, minha construção de personagem é caótica. Cada
uma é constituída de uma forma. Para a Michele, fui pegando referências de
cantoras brasileiras e estrangeiras. Sem muito segredo ou laboratório. Na
caracterização, mantenho o meu cabelo, mas ele está maior. Nas apresentações do
Brau, ela assume um cabelão de show. Montamos uma mulher exuberante, mas, ao
mesmo tempo, palpável, que, de fato, existe. Muito orgulho de mostrar
personagens com a cara do Brasil.
Como é lidar com a dança?
É dificílimo. Uma coisa é você gostar de dançar, outra coisa
é saber dançar. Eu gosto, mas esse universo da dança não é minha área. Mas me
divirto. Demoro para fazer e para aprender as coreografias.
O que você faria se
tivesse a grana da Michele?
Eles ganham R$ 14 milhões por mês. É muito dinheiro. Não sei
o que faria. Nem sei escrever essa quantia, quantos zeros tem (risos).
Qual é a importância de falar de temas tão fortes em Mister
Brau?
A série é importante porque mostra um olhar que a gente tem
do preconceito com o outro. Brasileiro tem essa mania de achar que o popular é
menor. O seriado serve pra gente olhar e ter vergonha da gente.
Você tem algum vizinho festeiro como a Michele e o Brau?
Meus vizinhos sempre fazem altas festas! Fico louca de
vontade de ser convidada para as festas e eles não me chamam (risos). Às vezes,
estou em casa e escuto. Tem alguém perto de casa que faz aniversário junto com
o meu filho, porque quando ele nasceu, teve a maior festança (risos).
Como é cuidar dos filhos junto com a carreira corrida de
atriz?
Uma maluquice. Minha sorte é que tenho a minha mãe (Mercedes
de Araújo) que dá conta do recado e que cuida das crianças. Além das pessoas
que trabalham lá em casa. Ter a presença de mamãe diariamente na rotina deles,
me dá muita tranquilidade para trabalhar. É sempre péssimo ficar longe deles.
Mas segundo filho é bem mais fácil. O meu amor se multiplicou com a chegada
deles. Um chama de um lado, outro chama do outro. Sem falar nas atividades
deles, como levar para a escola, arrumar… mas é tão prazeroso e tão
gostoso…
Como conseguiu recuperar a forma tão pouco tempo depois de
ter a Maria Antônia?
Basicamente, fiz dieta. Malhei e tive foco, disciplina.
Confesso que também teve sacrifícios. Como passar vontade de tomar cerveja
(risos).
Como é trabalhar mais uma vez com o marido, Lázaro Ramos?
Está sendo muito natural pra gente. Além disso, temos tantas
outras atividades como nossa família. Quando a gente não está trabalhando
junto, a gente também está discutindo trabalho. Afinal temos a mesma profissão
e estamos em um mesmo programa. Essa troca sempre existiu.
Como é fazer comédia? Dizem que é mais difícil do que o
drama.
Sou bem humorada. Mas tem algumas coisas que me tiram do
sério, falta de respeito é uma delas. Na verdade, tudo o que eu falar aqui vai
dar na falta de respeito. Quando o público gosta, compra a ideia e consagra o
artista. O artista trabalha para o povo. Eu quero ser desafiada, fazer bons
textos, diversificar. Parti para fazer comédia e estou tendo uma experiência
bem legal. Tem sido muito prazeroso. Um aprendizado gigantesco. É difícil pra
caramba, mas é uma coisa que se conquista. O legal da profissão de ator é que o
tempo está ao nosso favor. Conforme o tempo vai passando, a gente vai vendo
mais coisas e vai melhorando. Milhões de atores que começaram verdes fizeram
uma carreira tão bonita. Se empenhar e dedicar você aprende melhor.
Qual é o balanço que você faz de seus 20 anos de carreira?
Fiz bastante coisa. E tenho muito mais para fazer ainda. Mas
tudo aconteceu no tempo certo. Foi importante ter saído da Manchete, ido para a
Globo e ter ficado um tempão com personagens coadjuvantes, antes de encarar
outra protagonista, a Preta, em Da Cor do Pecado (2004). Que foi uma coisa
superbonita.
E você ainda foi a primeira atriz negra a protagonizar o
horário nobre da Globo, como a Helena, de Viver a Vida (2009)…
A Preta foi um sucesso e a Helena foi um fracasso. Mas faria
tudo de novo, porque, depois da Helena, acho que eu virei outra atriz. Eu quis
ser outra atriz. Então foi determinante aquele momento e falar pra mim mesma:
eu não quero ser atriz para fazer aquele tipo de papel, esse papel não é pra
mim. É saber enxergar o tipo de trabalho e o tipo de atriz que você é. Quando é
adequado ou não para você. Foi bom para saber que protagonista não é
necessariamente um bom personagem. Você enche os olhos por ser o principal nome
da novela, mas pode não ser bom. Tem personagens menores que são bem mais ricos
e que proporcionam desafios maiores para o intérprete.
E o filme das Empreguetes, sai ou não sai? Como está isso?
A gente ia filmar este ano e não deu. Estamos trabalhando
muito. Íamos gravar algumas cenas, inclusive, no Rock in Rio, mas não
conseguimos. A Isabelle (Drumond) está morta, emendou 50 novelas (risos). A
gente quer fazer um filme bem feito e com tempo. A previsão é lançar ainda ano
que vem. Vamos ver!