O autor dá detalhes da polêmica trama das 11 e diz que não tem medo da ala conservadora da sociedade
Desde 2000, o autor Walcyr Carrasco é figurinha carimbada em
todos os anos na Globo. E ele é versátil: já escreveu para às 18h, 19h, 21h e
23h e, agora, estreia mais uma novela das 11, que promete dar o que falar.
Diferente das últimas produções do horário, Verdades Secretas é uma história
original que aborda questões ligadas à prostituição e uso de drogas no mundo da
moda. Animado, Carrasco conta como foi o processo de produção da trama.
De onde surgiu a ideia da novela?
No momento que pintou a possibilidade de escrever uma novela
das 11, que fosse uma trama nova, pensei no mundo que me fascina. Quando eu
trabalhava como jornalista, fiz matérias de moda e comportamento para várias
revistas. Tenho fascínio por esse universo. Gasto meu salário em roupas, muito
mais do que eu devia (risos). Aí resolvi fazer a novela. Eu tinha pistas sobre
o assunto, mas primeiro decidi fazer uma reportagem pra conhecer mais o tema e,
depois, escrever a história.
Como foi essa reportagem?
Eu tinha uma ideia na cabeça e um bloquinho na mão. Fui
entrevistar pessoas que trabalham nesse
mundo e consegui resultados incríveis, inclusive, com os temas da novela que
são a prostituição e as drogas.
E como foi encontrar a prostituição dentro do mundo da moda?
Descobri que existe o
book rosa para mulheres e book azul para homens. A pessoa busca trabalho e
alguém da agência tenta convencer aos modelos a trabalhar com prostituição. Eu
sei de historias de meninas que demoraram seis meses pra serem convencidas.
Está na hora de abordar isso, falar sobre o universo do adolescente hoje.
Outro tema que será abordado é a questão do consumo de
droga…
A droga tem cercado
nossos adolescentes. Tem um momento na novela que a mãe descobre o cara que
vendia droga para seu filho e fala: “Você era amigo de casa”. E o bandido
responde: “Você acha que traficante usa uniforme? Traficante é um cara que vai
visitar o amigo”. Eu vou abrindo cartas na mesa que, em geral, são frutos dessa
reportagem. Essas dicas são para as pessoas entenderem esse mundo. Eu vi tanta
mãe que não tem ideia de quem a sua filha é. Inclusive de família rica.
E como enfrentar temas tão fortes em uma sociedade
conservadora?
Eu acho que não tem
essa onda de conservadorismo. Acredito que há conservadores que gritam mais forte
e, por gritarem mais forte, assustam. Peço aos conservadores para que assistam
à novela até o fim. Eles vão ficar extremamente satisfeitos com as dicas para o
pai conhecer o filho, para o pai entender a droga, para o filho entender a
droga. Todos vão compreender que, para você mostrar a luz, você tem que mostrar
a escuridão.
Você não teme em ser reprovado e ter que mudar a história
completamente?
O autor que tem medo não escreve. Autor tem que se arriscar.
A gente quer fazer uma coisa que signifique, e essa obra pra mim significa. A
história não mudou em nenhum momento. É a mesma que eu pensei desde o primeiro
dia.
Como você reagiu ao ser avisado que Deborah Secco estava
grávida?
Eu não poderia incorporar a gravidez dela. Já tive uma
experiência feliz com a Ingrid Guimarães em Caras e Bocas (2009), que ficou
grávida e teve o filho durante a novela. No caso da Deborah não daria para
abrir mão da trama.
Por que optou pela Drica Moraes?
Tenho uma longa parceria com a Drica e uma paixão por ela.
Fiquei triste quando ela saiu da outra novela. É uma atriz que está sempre na
lista das minhas produções.