“Mas não tem nada a ver com estética, é uma crise intelectual”, avisa o ator
“O meu desafio é passear por esses caminhos que já conheço e que ele seja revelador, como se eu não tivesse feito isso antes”, afirma Thiago Lacerda, ao encarar mais um mocinho em sua carreira. Depois de mais de 20 anos de TV, esse perfil de personagem poderia se tornar comum para o carioca, mas ele não esconde sua empolgação ao dar vida a Darcy, protagonista de Orgulho e Paixão. “Eu adoro os heróis, nunca escondi isso de ninguém. Tenho um apreço especial por esses personagens éticos, íntegros e a minha carreira é cheia desses caras. É muito difícil fazer o mocinho e isso é bom, porque acaba te mantendo atento, curioso”, explica o ator, que se identifica com seu papel. “Em muitos momentos, eu gostaria de ser o Darcy”, revela o astro.
SEM RÓTULOS
Junto com o título de mocinho, vem o de galã. Mas, deste, Thiago abre mão. “Nunca me ouviram dizer: ‘Eu sou um galã!’ Não é uma coisa minha. Eu lido com isso de uma forma natural desde que comecei a minha carreira, as pessoas têm necessidade de etiquetar e o nosso papel é não se preocupar muito com o que está escrito no rótulo que a gente tem”, explica. “O meu trabalho sempre teve foco nos personagens, o que me interessa é contar histórias. Meu compromisso comigo e com a minha carreira é fazer isso da melhor maneira que eu puder. Se as pessoas vão achar que é bonito, que é feio, que é alto, que é baixo, que é gordo, que é magro, não é uma preocupação que eu preciso ter”, afirma.
TEMPO DE REFLETIR
Dois mil e dezoito é um ano importante para o carioca. Em janeiro ele completou 40 anos e, em maio, comemora 20 anos de Hilda Furacão (1998), seu primeiro trabalho de grande destaque na TV. Para Thiago, essas duas décadas foram transformadoras. “Sou um cara diferente do que era há 20 anos e ainda bem! Vinte anos é muito tempo pra gente ir se transformando. A gente vai aprendendo, vai vivendo… Mas de alguma maneira eu sou aquele cara também. Sou aquele homem e mais 20 anos em cima. Amadureci, já tomei muita porrada na vida, sou pai… Não precisa de muito mais pra você se transformar”, avalia. Sem rodeios, ele assume que a chegada dos 40 anos está sendo um período de questionamentos. “Eu me sinto muito bem, mas confesso que tenho parado para repensar a minha vida, os meus valores, os meus conceitos. Não é lenda isso da crise dos 40 não, mas não tem nada a ver com estética, com cabelo que cai, com o corpo que não é mais o mesmo. Eu vou jogar bola com meus amigos e, no dia seguinte, eu tenho 40 anos e não tenho mais 22. Perceber o tempo passar, fisicamente, esteticamente, é muito legal. O que pega é muito mais profundo que isso: é quem somos, pra onde eu quero ir pelos próximos 40 anos. É uma crise intelectual, é uma crise ética, é uma crítica construtiva, benéfica e bem-vinda. Mas é difícil… Daqui a pouco passa”, desabafa.
O ator com a esposa, a atriz, Vanessa Lóes, e os três filhos: amor sem fim. Foto: Instagram
NOVOS RUMOS
A maturidade fez Thiago rever as suas prioridades. Hoje, o ator procura ter uma vida mais reservada. “É uma coisa que a idade vem me trazendo: a necessidade de me preservar cada vez mais. O meu dia a dia tem muito ruído, essa coisa de showbiz, de figuras públicas é demais para a minha personalidade. Tenho sentido a necessidade do silêncio e, talvez, esse seja um caminho cada vez mais concreto na minha vida”, admite. Longe da TV desde A Lei do Amor (2016), ele conta que aproveitou o intervalo entre uma novela e outra para ficar com a família. “Fui preparar outros projetos, ficar em casa com as crianças, que é uma proposição minha, cada vez mais diminuir o meu ritmo para ter mais tempo para eles. E consegui ser saudável nessa matemática de trabalho, família, amigos, vida pessoal, saúde… Mas é natural, terminou uma e, quando me apresentaram uma proposta legal para uma próxima, cá estou”, explica. A volta ao trabalho é sempre uma questão para os filhos, Gael (10), Cora (7) e Pilar (3). “Eu trabalho muito e, quando eu paro, realmente me dou o direito de ficar com eles de verdade e eles acabam se acostumando. E quando eu começo de novo, eles falam: ‘Pai, cadê você?’. Eu digo: ‘Papai trabalha e trabalha mesmo! Espero que vocês aprendam o valor disso um dia’. A gente segura a onda, mas eles sentem, é uma rotina acelerada”, conclui.