A realização profissional pode estar longe da vida corporativa – e ao lado de animais
Laurelee Blanchard deixou uma carreira de sucesso como vice-presidente de uma empresa para seguir seu sonho: montar um santuário para bichos de fazenda. Em 1999 ela tinha dois gatos e uma rotina urbana na Califórnia, quando decidiu viver de forma diferente. Vegana e engajada, porém sem nunca ter vivido no campo, ela usou suas economias para comprar uma grande propriedade no Havaí para abrigar animais vítimas de maus-tratos.
A escolha de trabalhar ao lado de bichos não é mais exclusiva de ambientalistas, biólogos ou veterinários. Profissionais de outras áreas resolveram mudar o rumo para estar perto deles – sejam cachorros ou leões –, motivados pela própria saúde, bem-estar, estilo de vida e claro, o prazer. Longe dos prédios de escritórios, a estrutura de Laurelee cresceu e hoje o Leilani Farm Sanctuary abriga 300 animais entre cabras, coelhos, porcos, aves, vacas e burros. “Estou fazendo exatamente o que gosto”, conta ela, que recebe visitantes com finalidade educativa.
O trabalho com animais também aparece de surpresa. Silvia e Marcos Pompeu há mais de 20 anos administram o santuário Rancho dos Gnomos, em Cotia (SP), onde moram pelo menos 230 animais – entre eles leões e onças. Mas o plano inicial não era esse. Em 1992, a jornalista e o funcionário público estavam passando uma temporada no sítio da família enquanto organizavam a mudança para Nova York. Uma cabra e alguns animais resgatados da rodovia foram a semente do que hoje eles chamam de missão. “Na época a gente não entendia o que estava acontecendo, mas parecia uma peça que a vida nos pregou para fazer algo maior. Me indicaram um congresso de proteção animal e ali nosso mundo caiu. Conhecendo casos de maus-tratos começamos a trabalhar e aos poucos ganhamos experiência”, conta Marcos.
Mas não é preciso ter uma propriedade rural para mudar de vida. A analista financeira Alessandra Gomes resolveu trabalhar com cachorros para melhorar sua saúde. Ela tinha 12 anos de experiência na área e um recente diagnóstico de diabetes quando virou o jogo: obrigada a praticar exercícios e frustrada por não ter cursado veterinária, trocou o emprego em uma multinacional para ser dog walker e dog sitter, passeadora e babá profissional de cachorros. “Uni o útil ao agradável e ainda sou paga por isso!”, diz ela. “Além de cuidar da minha saúde, trabalho feliz ao lidar com cães. Eles me deixam de alto-astral.” Um cachorro também foi o empurrão para Renata Ferraz deixar a advocacia e a gastronomia. “Eu era infeliz. Chegava em casa exausta, só chorava”, conta. Quando descobriu que sua vira-lata Nina tinha sérias alergias alimentares, Renata precisou fazer comidas especiais como parte do tratamento. O resultado da alimentação natural foi tão bom que a moça continuou a pesquisar e há mais de um ano comanda a Cãolinária, empresa que monta cardápios ou prepara comida em casa para pets. “Hoje, me sinto completa! Não importa a profissão, meu dom é cuidar de bicho”, conclui.