O cantor Jerry Lee Lewis morreu nesta sexta-feria (28) aos 87 anos, de causas naturais, disse seu agente, Zach Farnum, à CNN. Dos três artistas brancos mais importantes do rock’n’roll nos anos 1950, Jerry Lee Lewis foi o que teve vida mais longa e estrelato mais breve. Jerry Lee desafiou o sistema, e este o atirou ao ostracismo em apenas um ano -o pianista e cantor nunca mais recuperou a popularidade atingida em 1957.
O fato mais determinante na carreira de Jerry Lee não foi a selvageria de sua performance no palco nem a altíssima energia sexual de sua música -ele ficou indelevelmente marcado ao se casar, em 1957, com uma prima de 13 anos. A indústria do entretenimento respondeu com um boicote ao músico. Na década seguinte, ele sobreviveria como intérprete de country music; apenas nos anos 1980 sua imagem seria resgatada para se tornar ídolo “cult” de uma nova geração de roqueiros.
Jerry Lee nasceu em uma família pobre de Ferriday, Louisiana -no cinturão bíblico do sul dos Estados Unidos, onde a igreja protestante desempenha um papel de destaque nas relações sociais e políticas. Autodidata, tocava e cantava na igreja local desde a infância. Ganhou o primeiro piano aos 10 anos, graças a um empréstimo, contraído pelo pai, em que a casa dos Lewis era a garantia. Aos 14, estreou no show business, apresentando-se na inauguração de uma concessionária de carros local. O garoto era influenciado pela música caipira que tocava então no rádio –Hank Williams, Jimmie Rodgers e Ray Price, entre outros.
Em 1956, Jerry Lee estava em Memphis, Tennessee, onde a lendária gravadora Sun recrutava artistas que misturavam o som negro do rythm and blues com o country and western. Seu primeiro compacto para o selo foi um cover de “Crazy Arms” -uma balada em estilo sertanejo norte-americano cujo narrador lamenta a perda de seu amor para outro homem.
O single vendeu 300 mil cópias, o que fez de Jerry Lee um astro regional. No final do ano, enquanto trabalhava como músico de estúdio para Carl Perkins, a sessão foi “invadida” por Elvis Presley e Johnny Cash -o resultado da “jam session” transformou-se no disco “The Million Dollar Quartet”, lançado somente em 1981.
O sucesso de “Crazy Arms” foi seguido de uma turnê em que o jovem músico desenvolveu sua postura amalucada no palco -chutava para longe o banquinho do piano e tocava em pé, martelando as teclas violentamente. Nascia “The Killer” (“O Matador”), epíteto que acompanhou Jerry Lee ao longo de sua carreira.
No ano seguinte, 1957, o matador se tornou a grande cartada do empresário Sam Phillips, dono da gravadora Sun, que havia recentemente perdido Elvis para a RCA. A aposta começou a dar certo em abril, quando Jerry Lee lançou “Whole Lotta Shakin’ Goin’ On”, que atingiu o topo de parada de R&B da revista “Billboard”. Tratava-se de um blues gravado originalmente pela cantora negra Big Maybelle “-nas mãos de Jerry Lee, tornou-se um rock acelerado em que o piano frenético do “Killer” desenvolvia todo seu potencial.
Os dois compactos seguintes, “Great Balls of Fire” e “Breathless”, iam na mesma toada e definiram a transformação de Jerry Lee -em poucos meses, ele passou de caipira xucro a astro internacional.
Foi justamente num giro pelo exterior que veio a queda, tão rápida, drástica e espetacular quanto a ascensão. Em maio de 1958, ele foi recebido no aeroporto de Heathrow, em Londres, por um séquito de repórteres interessados não em música, mas em fofocas para os tabloides que os empregavam. Um desses jornalistas era Paul Tanfield, do “Daily Mail”, que perguntou a Lewis a idade da jovem esposa que o acompanhava. “Quinze”, mentiu o roqueiro. Myra Gale Brown tinha 13 anos, nove a menos que o marido, seu primo-irmão.
O escândalo foi para a capa de todos os tabloides britânicos. A turnê foi cancelada. Nos Estados Unidos, os discos de Jerry Lee foram banidos das estações de rádio. O cachê do artista caiu e US$ 10 mil para US$ 250 por apresentação.
Após dez anos de investidas frustradas para furar o bloqueio imposto pela indústria do pop, Lewis mudou de estratégia em 1968 -tornou-se um intérprete de country music. Até 1977, colocou 17 músicas entre as dez mais tocadas nas rádios especializadas nesse segmento.
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