No universo de “The Discovery“, disponível na Netflix, a ficção científica se entrelaça com questões filosóficas profundas, evocando uma reflexão sobre a sociedade moderna. Em um mundo onde a exaustão e a desorientação são quase endêmicas, muitos buscam soluções rápidas e convincentes para escapar da morte. No entanto, como diria Nietzsche, essa busca por uma existência sem propósito pode acabar por nos aniquilar.
A Morte como Tema Recorrente no Cinema
A temática da morte sempre encontrou um terreno fértil no cinema. De “Ghost — Do Outro Lado da Vida” a “Os Outros“, passando por “O Mistério da Libélula” e “A Casa dos Espíritos“, a ideia de superar o medo do fim é uma constante. Esses filmes não só exploram a morte como um evento inevitável, mas também questionam se é justo dar uma segunda chance àqueles que amamos. “The Discovery” pega essa linha e a leva para um novo patamar, ao introduzir a interferência da inteligência artificial na equação.
A Descoberta que Mudou Tudo
O segundo longa de Charlie McDowell, “The Discovery”, é uma investida ambiciosa no campo da ficção científica. O filme apresenta Robert Redford como Dr. Thomas Harbor, um cientista que, visivelmente cansado, descobre algo que abala as fundações da sociedade. Esse cansaço, entretanto, não é meramente físico; ele parece carregar o peso de uma descoberta que, como diria Nietzsche, mata Deus e coloca o homem no centro do universo, mas sem oferecer um sentido para essa nova posição.
O Impacto na Sociedade
Assim que a descoberta de Harbor é revelada, a sociedade entra em colapso. A taxa de suicídios dispara, com pessoas desesperadas para experimentar a “vida após a morte” que o cientista promete. Aqui, o filme toca em uma ferida aberta: a maneira como a humanidade, em sua busca incessante por respostas, pode criar monstros. O comportamento idiossincrático de Harbor, brilhantemente interpretado por Redford, apenas intensifica essa sensação de desespero coletivo.
Relações Familiares e Conflitos Internos
A chegada de Will, filho de Harbor, interpretado por Jason Segel, adiciona uma camada de tensão à narrativa. A relação entre pai e filho é marcada por conflitos, principalmente devido às atividades controversas de Harbor. Em uma viagem de balsa que simboliza a travessia entre o conhecido e o desconhecido, Will encontra Isla, vivida por Rooney Mara, uma figura enigmática que espelha a frieza de seu pai. A interação entre eles é tão tensa quanto a atmosfera que permeia o filme.
A Estética Noir e a Fotografia Envolvente
A escolha de McDowell por um clima noir, intensificado pela fotografia de Sturla Brandth Grøvlen, contribui para a sensação de mistério que permeia o filme. Há uma distância proposital entre o espectador e os eventos na tela, como se estivéssemos observando tudo através de uma neblina densa e opressiva. Essa barreira, que parece quase impenetrável, é uma metáfora visual para a desconexão dos personagens com a realidade, algo que Nietzsche descreveu como um afastamento da “verdade objetiva”.
A Pandemia de Suicídios
A explosão de suicídios causada pela descoberta de Harbor é tratada quase como uma pandemia, que desafia a capacidade dos governos de reagirem. Alguns, desesperados, chegam a incentivar o uso do novo método de Harbor para aliviar a pressão sobre os sistemas de saúde e previdência. Isso ressoa com a ideia nietzschiana de que, quando todas as crenças tradicionais são destruídas, o homem é forçado a encontrar novas formas de lidar com a realidade, muitas vezes de maneira destrutiva.
Conflitos e Dinâmica Familiar
Os conflitos entre Will e seu irmão, Toby, interpretado por Jesse Plemons, dão ao filme uma dinâmica que vai além da ficção científica. Toby, um entusiasta das pesquisas de seu pai, é o contraponto ao ceticismo de Will. No entanto, o filme não se aprofunda tanto no romance entre os personagens de Segel e Mara, preferindo focar nas tensões familiares e nas implicações filosóficas da descoberta de Harbor.
Ficção Científica e Filosofia: Uma Combinação Poderosa
“The Discovery” reafirma o potencial da ficção científica como um dos gêneros mais férteis para explorar questões filosóficas sobre a vida, a morte e o renascimento. O filme desafia o espectador a questionar suas próprias crenças e a considerar as implicações éticas e morais de uma descoberta que poderia alterar para sempre o curso da humanidade.
Realidade e Ilusão: A Vida Após a Vida
No fim das contas, “The Discovery” apresenta uma visão perturbadora da vida após a morte, onde a linha entre realidade e ilusão é perigosamente tênue. Os personagens, presos em suas próprias recordações e fantasias, parecem cada vez mais distantes da realidade, sugerindo que talvez essa seja a verdadeira essência da vida após a vida: uma existência artificial, desconectada e profundamente solitária.
Conclusão
“The Discovery” é mais do que um filme de ficção científica; é uma meditação sobre a condição humana, nossa relação com a morte e a maneira como buscamos desesperadamente dar sentido à nossa existência. Em um mundo cada vez mais dominado pela tecnologia e pela inteligência artificial, o filme nos lembra que, como diria Nietzsche, “aquilo que não nos mata nos torna mais fortes” — mas, às vezes, também nos deixa mais perdidos.
Filme: The Discovery
Direção: Charlie MacDowell
Ano: 2017
Gênero: Ficção Científica/Romance
Resumo para quem está com pressa
- “The Discovery” explora temas de ficção científica e filosofia, disponível na Netflix.
- O filme aborda a busca por uma existência além da morte, refletindo ideias de Nietzsche.
- A descoberta do Dr. Harbor leva a uma explosão de suicídios e crises sociais.
- Relações familiares complexas acrescentam profundidade à narrativa.
- A estética noir e a fotografia criam uma atmosfera de mistério e desconexão.
- A obra questiona as implicações éticas de uma vida após a morte artificial.