A novela das seis da Globo, “No Rancho Fundo“, ambientada no interior do Nordeste, tem gerado discussões sobre a representação da região na teledramaturgia. O ator André Luiz Frambach, por exemplo, compartilhou recentemente um vídeo exibindo seu novo visual para a novela: longos cabelos despenteados, um estilo que remete ao imaginário popular sobre o homem rústico do sertão. Mas essa escolha estética revela muito mais do que um simples detalhe de figurino. Isto porque evidencia a perpetuação de estereótipos que há muito tempo já não correspondem à realidade do Nordeste.
O Nordeste e o Cabelo: Entre a Ficção e a Realidade
Na trama de Mário Teixeira, essa caracterização dos personagens sugere um Nordeste congelado no tempo. Então, surgem homens de cabelos longos e desgrenhados parecem não ter acesso a barbeiros ou não se importam com sua aparência. Essa escolha narrativa, porém, vai de encontro à realidade atual das cidades do Agreste e Sertão nordestinos. De tal forma que maioria dos homens mantêm cabelos curtos e bem cuidados, refletindo um ambiente que valoriza a limpeza e o asseio, especialmente em regiões onde a água é escassa e racionada.
Igor Jansen, ator cearense que estreou na Globo com “No Rancho Fundo”, também destaca essa desconexão. Após o sucesso nas novelas “As Aventuras de Poliana” e “Poliana Moça”, no SBT, Jansen agora integra um folhetim que, embora se passe no Nordeste, reforça imagens distorcidas e antiquadas da região. Aliás algo que o próprio ator, como nordestino, vê com certa preocupação.
Estética Terrosa e Romantização da Brutalidade
Além dos penteados, a direção de arte de “No Rancho Fundo” parece apostar em uma paleta de cores terrosas. Como resultado, reforçando a imagem de um Nordeste seco e sem vida. Os cenários e figurinos se fundem em tons de areia e barro, dando a impressão de que os personagens vivem imersos em poeira.De tal forma que parecem estar fugindo até mesmo de um banho refrescante. Este visual, se por um lado busca criar uma atmosfera específica, por outro reforça a ideia de que o interior nordestino é um lugar árido e incivilizado. Assim, distante da realidade urbana e moderna que muitas dessas cidades já alcançaram.
A romantização da brutalidade também aparece em cenas onde discussões se resolvem com armas em punho, uma referência a tempos antigos que não reflete a civilização e a paz que predominam no Nordeste atual. Esta escolha de narrativa não só distorce a imagem da região, mas também perpetua preconceitos que há muito deveriam ter sido superados.
Um Nordeste Atual Desconhecido pela Globo?
A insistência em retratar o Nordeste como uma região de homens brutos, iletrados e desatualizados pode parecer inofensiva para alguns, mas para muitos nordestinos é, no mínimo, desanimadora. A Globo, ao optar por tais representações em “No Rancho Fundo”, parece desconhecer ou ignorar as mudanças e o desenvolvimento que o Nordeste vivenciou nas últimas décadas. A realidade é que as cidades nordestinas, com sua rica cultura, economia em crescimento e sociedade em transformação, merecem ser mostradas em sua verdadeira complexidade, longe dos estereótipos antiquados que ainda insistem em povoar a ficção televisiva.
Resumo para quem está com pressa:
- A novela “No Rancho Fundo”, da Globo, reforça estereótipos antigos sobre o Nordeste.
- Personagens masculinos são retratados com longos cabelos desgrenhados, contrariando a realidade atual da região.
- A direção de arte utiliza uma paleta terrosa que sugere um Nordeste árido e sem vida.
- Cenas de violência e uso de armas perpetuam uma imagem distorcida do Nordeste moderno.
- A representação do Nordeste na novela não reflete a evolução e o desenvolvimento das cidades da região.
- A Globo continua a reforçar clichês e estereótipos que não condizem com a verdadeira realidade nordestina.