O remake de “Renascer“, exibido pela Globo, está entrando na sua penúltima semana, e o que deveria ser um momento de clímax e tensão para o público acaba revelando uma série de problemas que já estavam presentes na versão original. A trama, que gira em torno da saga rural de José Inocêncio (interpretado por Marcos Palmeira), acaba repetindo alguns dos tropeços que marcaram a primeira versão da novela.
Deslizes na adaptação
Aliás, um dos maiores deslizes é a introdução do personagem Cacau, neto de José Inocêncio, que trouxe poucas mudanças significativas para a narrativa, além de ter sido uma adição desnecessária. Apesar do bebê ter sido revelado como intersexo, um tema importante e relevante, a forma como a história foi conduzida deixou a impressão de que a novela estava apenas “enchendo linguiça”.
Essa sensação de falta de propósito na trama é reforçada pelo desenrolar da história de Buba (Gabriela Medeiros), cuja jornada de maternidade, que inicialmente parecia central para a narrativa, foi deixada de lado sem explicações convincentes. O desejo de Buba de abrigar e cuidar de uma adolescente grávida em situação de vulnerabilidade parecia ser uma subtrama promissora, mas acabou sendo negligenciada, deixando o público sem um fechamento adequado para essa história.
Personagem central mais fraco
O personagem central, José Inocêncio, que deveria ser o pilar emocional da novela, também sofre com a falta de desenvolvimento. Embora a trama insista na importância do neto para ele, o coronel quase não interage com o bebê. Em vez disso, ele passa grande parte da novela imerso em uma angústia paralisante pela perda de Maria Santa (Duda Santos), sua grande paixão. Essa estagnação emocional faz com que ele passe quase 30 anos sem grandes mudanças, o que faz o título da novela parecer uma ironia. Talvez “Amor Eterno” fosse um nome mais apropriado, considerando que o único momento em que José Inocêncio realmente “renasce” foi nas tocaias que sofreu na primeira fase da trama.
Relação superficial
As relações de José Inocêncio com outras mulheres, como Mariana (Theresa Fonseca) e Aurora (Malu Mader), são tratadas de maneira superficial. Embora a novela ofereça algumas justificativas para essas relações passageiras, os argumentos não convencem, deixando essas histórias sem profundidade ou impacto real na narrativa.
Novas Terras
Outro ponto de incoerência na trama é a falta de compromisso do fazendeiro com as responsabilidades que assumiu nas terras de sua atual companheira. José Inocêncio, conhecido por ser um trabalhador exemplar, parece negligenciar suas obrigações sempre que um novo conflito surge, seja por conta de um atentado contra seu inimigo ou por causa do fantasma do Bumba, deixando o telespectador sem entender suas motivações.
Eventos inacabados
A trama também falha em dar continuidade a certos eventos, como o aparecimento de um delegado para investigar um roubo de cacau, mas que não deu as caras no assassinato do filho do homem mais poderoso da região. O assassino de José Venâncio (Rodrigo Simas) continua livre, causando mais confusão, enquanto o enredo parece se perder em suas próprias pontas soltas.
No que diz respeito ao vilão Egídio (Vladimir Brichta), ele se destaca por manter o conflito vivo na trama. Praticamente sozinho, Egídio carrega o fardo de criar os obstáculos que evitam que “Renascer” se resuma a problemas familiares e dilemas amorosos. Entretanto, é Eliana (Sophie Charlotte) quem realmente domina a novela, com falas marcantes e uma trajetória de vingança que manteve o público engajado do início ao fim.
Colcha de Retalhos
Apesar das tentativas do autor Bruno Luperi de inserir novos temas e personagens, como Lilith (Lucy Alves), a estrutura da novela original, escrita por Benedito Ruy Barbosa, permaneceu praticamente inalterada. “Renascer” é uma colcha de retalhos bem montada, mas a ordem em que esses retalhos foram costurados, mesmo quando trocados, não altera o resultado previsível e muitas vezes decepcionante.
Frustração
Com a trama se encaminhando para o final, a novela perde fôlego. Faltam ganchos emocionais e narrativos que prendam o público, deixando uma sensação de frustração. É lamentável, pois “Renascer” tem suas qualidades, especialmente na estética visual e nas atuações, mas a falta de inovação e o apego a erros do passado acabam ofuscando o potencial da produção. A novela vai ao ar até o dia 7 de setembro, depois será sucedida por “Mania de Você“.
Resumo para quem está com pressa:
- O remake de “Renascer” repete erros da versão original, especialmente na trama envolvendo o neto de José Inocêncio.
- A história de Buba, que parecia promissora, foi deixada de lado sem explicação.
- José Inocêncio, personagem central, não teve o desenvolvimento esperado e permaneceu estagnado.
- Relações de José Inocêncio com outras personagens são tratadas de forma superficial e sem impacto real na trama.
- A trama apresenta incoerências, como a ausência de continuidade em eventos importantes.
- Apesar das qualidades visuais e boas atuações, a novela perde fôlego na reta final.