Ataques de tubarão podem ser evitados com conscientização e educação ambiental, afirma especialista da USP
O Brasil ocupa o quarto lugar no ranking histórico de ataques de tubarão, calculado pelo Arquivo Internacional de Ataques de Tubarão (Isaf), uma base de dados ligada ao Museu da Flórida. Ao todo, foram 107 registros, a maioria em Pernambuco. A lista é liderada por Estados Unidos e Austrália, com 1.516 e 670 casos, respectivamente.
O relatório anual mais recente é de 2020. Possivelmente influenciado pela pandemia de covid-19, esse foi o menor índice da década. Foram 57 ataques não provocados, aqueles que ocorrem no hábitat natural do tubarão, sem provocação humana. Os casos provocados ocorrem quando o humano inicia a interação com o animal, como tentar alimentá-lo ou removê-lo de redes de pesca. Não houve registros no Brasil.
Em 2021, entretanto, ao menos quatro incidentes envolvendo tubarões ocorreram no País. Dois casos fatais em Pernambuco. Os outros dois, no litoral de São Paulo, terminaram com os banhistas feridos. Apesar do aumento em relação a 2020, o Isaf aponta que as variações anuais são esperadas e não anulam a tendência de redução no longo prazo.
Um estudo da Universidade de Macquarie, na Austrália, indica que erros de identificação explicam as mordidas a humanos. Os pesquisadores utilizaram um modelo que simula a visão dos animais e, a partir dessa simulação, concluem que os tubarões confundem surfistas e banhistas com suas presas.
Edris Queiroz, doutor em Ciências pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP e diretor do Instituto de Biologia Marinha e Meio Ambiente, afirma que os tubarões são predadores de topo da cadeia alimentar e, de fato, essas confusões podem acontecer. “Principalmente com os animais jovens, que são muito curiosos e mordem para saber o que é”, diz.
Porém, ele ressalta a diversidade de espécies. “Cada animal tem um hábito alimentar diferente, tem presas diferentes, então nós não podemos generalizar. Esse estudo está mais ligado aos tubarões-brancos, que têm uma ocorrência muito grande de ataques na Austrália.”
Queiroz conta que, com o maior número de pessoas vivendo em regiões litorâneas e o desenvolvimento dos equipamentos de comunicação, ficou mais fácil registrar ataques de tubarão. Entretanto, os incidentes ainda são raros.“Pelo número de tubarões que nós temos no oceano, o número de acidentes que ocorrem com ataques é muito pequeno, não dá para categorizar o tubarão como uma espécie ameaçadora.”
Para evitar esses incidentes, o professor ressalta a importância da conscientização. “Se tem uma placa ‘não entre na água’, é para não entrar, porque o tubarão está lá, é o hábitat natural dele e com certeza ele pode provocar um acidente.”
A educação ambiental também é fundamental para que as pessoas conheçam a importância desses animais no meio ambiente. “Os tubarões se alimentam de uma série de outros animais, se a gente diminuir a quantidade de tubarões, levando eles à extinção, que é o que está acontecendo, em breve nós poderemos ter um problema muito grande, a gente quebra um elo da cadeia alimentar.”
O professor ressalta que, diferentemente da ideia de vilões dos mares, esses animais correm risco de extinção. Além da poluição e da perda de hábitat, há a pesca predatória, principalmente de cação. Porém, por serem acumuladores de metais pesados, o consumo de sua carne pode ser nocivo. “A importância de a gente preservar os tubarões é grande, assim a gente vai conseguir salvar os nossos mares”, conclui.
(com informações da agência USP)