Nascido e criado no Vidigal, comunidade do Rio, o ator comemora vitória na vida e na arte
Com apenas 19 anos, Juan Paiva encara cenas difíceis ao viver Anderson, em Malhação – Viva a Diferença. O ator é porta-voz da luta contra o racismo e preconceito social, por meio de seu personagem, que sofre com a hostilidade e rejeição de Mitsuko (Lina Agifu), mãe de sua namorada, Tina (Ana Hikari). Juan sente-se honrado em representar os adolescentes negros na novela juvenil. “Para nós, negros, ter esse espaço é muito importante. Converso todos os dias com a Heslaine (Vieira, sua irmã na trama) sobre nossas questões, e o que podemos mudar, arrumar um caminho para podermos abrir portas. A gente pensa num todo”, acredita. Segundo Juan, a função do ator é levar para o público a discussão sobre temas sociais. “Me dedico ao máximo e estudo para não ser bruto, radical, mas também para não ser tão delicado. Tento achar um equilíbrio e passar uma mensagem que atinja a galera com eficácia”, afirma Juan, que também levou assuntos sérios ao interpretar o Wesley, em Totalmente Demais (2015).
Em Malhação, Tina e Anderson são a prova de que o amor vence tudo. Foto: Marilia Cabral/ Rede Globo
Sentindo na pele
Nascido e criado no Vidigal (comunidade da Zona Sul do Rio de Janeiro), Juan já sentiu na pele o preconceito por diversas vezes. Em muitos casos, ele foi seguido por seguranças em lojas de departamento por causa da sua cor. “Já vivi várias situações que não foram legais. É uma sensação péssima. Vai ser sempre ruim passar por isso. Hoje, posso estar mais maduro e seguro de mim, mas sempre vai ser uma situação ruim”, revela. De acordo com o jovem ator, a discriminação piora quando o negro é morador de uma comunidade. Mesmo com a pouca idade, Juan acredita que amadureceu antes do tempo: “Na realidade do morro, você amadurece muito rápido. Eu tenho 19 anos, mas comecei a trabalhar com 16. Já sabia de muita coisa desde muito novo. Não ando pelos lugares sem saber onde estou pisando. O cotidiano do morro é realmente um ensinamento incrível.”
Com Valentina Bandeira, em Totalmente Demais. Juan também usou cadeira de rodas. Foto: João Cotta/ Rede Globo
Vida no asfalto
O grande choque cultural para Juan foi mesmo quando desceu da comunidade e encarou a vida no asfalto. “Dentro do morro não há desigualdade. A gente está acostumado com todos os moradores, conhecemos todo mundo. Quando saímos da favela, aí é que vem a diferença e percebemos os olhares de algumas pessoas, a forma que elas falam sobre nós. Isso me fez assimilar as coisas e amadurecer muito”, relata Juan, que é casado com Luana Souza, de 20 anos. Eles são pais da pequena Analice, de três aninhos.
O papai coruja não se cansa de postar fotos da pequena Analice na internet. Foto: Reprodução/ Instagram
Retorno feliz
Com Malhação chegando ao fim, Juan faz um balanço de sua participação na trama. “Estou feliz com a repercussão. O retorno foi bastante positivo. Meu personagem cresceu muito. Falamos do preconceito, amor proibido, jovem representando os motoboys e negros. Tinha muito medo no início de não ter um retorno favorável, até mesmo por eu ser carioca e ter sotaque. Tinha medo de me atrapalhar. Mas, graças a Deus, tudo foi no caminho certo”, afirma.
Sotaque da quebrada
Carioca da gema, o grande desafio de Juan foi dar vida a um paulistano nato. O que deu mais trabalho na composição foi o sotaque. “Já estou adaptado, mas tive que me concentrar bastante, fui pegando aos poucos. Se eu dispersar vem o carioquês (risos). Tive até ajuda de fonoaudióloga. Comecei a improvisar nas cenas, pesquisei na internet rappers como Emicida e Mano Brown, as formas que eles pronunciam as palavras. Estudei muito o sotaque paulistano, é quase igual a aprender outra língua”, brinca o pisciano, que viu suas redes sociais crescerem ao conquistar quase 500 mil seguidores, apenas no Instagram, durante a novela.